segunda-feira, 1 de julho de 2013

Crônica - Envelheço na Cidade



NESTA DATA QUERIDA




...e o mantenedor deste blog completa, neste 01 de julho de 2013 D.C. (Depois de Cristo), 43 primaveras. Ou antes: 43 invernos, porque 43 primaveras é coisa de boiola.

Não me sobrou muito do ímpeto da adolescência e nem muito daquelas reações destemperadas (bom, mais ou menos...). Mas o orgulho está aqui, intacto.

Orgulho eu tenho de sobra!

 * * *


Em compensação, não tenho nenhum medo de envelhecer.

Muita gente tem, isso é normal – daí o sucesso daqueles quadros do “Fantástico” que ensinam as pessoas a espicharem a média de vida comendo soja, salmão ou berinjela.

Eu, heim? Nem a pau.

* * *

Aqui estou, com meus “óculos de dirigir à noite”, alguns fios grisalhos no cabelo e um monte deles na barba (o que é meio esquisito). Aqui estou, pronto para encarar os 50, 60 ou 70 anos – se as coronárias permitirem e se algum rabo de cometa não ricochetear na Terra, o que, segundo Isaac Asimov e Carl Sagan (que Deus os tenha!), é bastante improvável.

Parte dessa determinação é conformismo; outra parte é a minha incompetência em fazer planos; e a outra parte é a minha memória, mesmo, que é danada de boa.


* * *

Saudosismo da juventude?

Saudosismo de quê?

Talvez sua adolescência tenha sido fenomenal e sua juventude, periclitante. Se for o caso, que bom pra você. Mas as minhas foram bem banais. Noves fora (e uma cicatriz no tornozelo e outra no pescoço; e uma enxaqueca crônica; e uma dor nas costas que, quando dá o ar da graça, me faz socar a parede), vivo, hoje, o melhor momento da vida. Não me sobra muita grana ou mulheres. Mas o que tenho disso aí (quando tenho) é o bastante pra mim.

Bom mesmo é ter o leme nas mãos. É saber que, pilotando meu barco sozinho, caso eu não chegue lá (e “lá” é um conceito bem elástico), é só a mim que devo explicações. E sou muito compreensivo comigo mesmo: sempre me dou outra chance se achar que falhei porque, nas tentativas anteriores, as variáveis estavam contra mim.

E muitas vezes, estavam mesmo.


* * *

Também tem a questão dos planos.

(...)

Planos?

Que planos, cara-pálida?

Cheguei aqui como um daqueles surfistas malucos que encaram as ondas da Praia de Jaws, no Havaí – não como os que batem recordes e aparecem na TV, mas como os que vão até lá e se estrepam. Do ponto de vista de quem assistiu (e do meu próprio ponto de vista, às vezes), fiz tudo errado, na ordem errada e no tempo errado. E o incrível é que, no fim, deu tudo certo.

Levei bomba em quase todos os testes básicos da vida, mas os refiz depois (às vezes dias, anos ou décadas mais tarde) e fui aprovado com louvor. Descobri que a gente só fracassa em algo se, no fundo, não quisermos realmente ter sucesso naquilo. Pois, às vezes, a mente consciente “acha” que alguma coisa deve ser feita, ainda que o inconsciente (o sujeito barbudo e de maus bofes que vive dentro da gente; decifra-o ou ele te devora) se recuse, cruze os braços e diga: “não, não e não”.

E não dá pra discutir com o inconsciente, meu chapa.

Ele sempre tem as melhores cartas nas mãos. E conhece o seu jogo melhor que você. 

* * *

Quanto ao conformismo, a verdade é a seguinte: muitas vezes, conformar-se é amadurecer.

É entender.

* * *

Quem não fantasiou viver para sempre?

Quem não quis atrasar o próprio relógio biológico e enganar a morte?

Quem não quis voltar no tempo e apagar momentos embaraçosos do passado?

De J. K. Rowling a Weligton Alfredo da Cruz (o paraibano que faz os serviços gerais aqui no condomínio), todos vivemos essas fantasias. Mas isto é o que não pode ser. É o que não é.

* * *

Se o futuro a Deus pertence (copyrights: minha avó), resta-nos curtir as pequenas-grandes bênçãos do presente. Um flerte na fila do banco, a consumação de um antigo desejo (a maioria não se consuma, mas até o mais pessimista dos homens é obrigado a aceitar a lei das probabilidades), uma promoção merecida ou uma demissão redentora (dependendo da empresa em que você trabalha).

E colaborar para que essa joça de mundo rode de forma mais azeitada depois que a gente partir. Escrever um livro (eu já escrevi dois), ter um filho (ainda não tive; mas posso ter) e plantar uma árvore (tô fora) são ambições muito legais. Mas nada se compara a iluminar o caminho de alguém. Seja como for.

Porque, um dia, tudo se acaba, mesmo.

E a menos que inventem uma câmara criogênica que realmente funcione (até agora, todos os protótipos falharam), o único jeito de ser imortal é se tornar uma lembrança imorredoura na vida de outra pessoa.


* * *

Opa! Espera aí!

Agora eu já sou um mocinho e tenho alguns planos na manga.

E meus planos são danados bons! Quer ver?

PLANO 1
Quitar meu apartamento em um ano (se continuar poupando, é quase certo que conseguirei).

PLANO 2
Dar entrada em outro imóvel (que pagarei em módicas prestações, já que a ideia é alugá-lo e, assim, ter uma aposentadoria mais confortável).

PLANO 3
O resto do dinheiro que ganhar depois dos 45 anos, gastarei viajando. Verei tudo o que ainda não vi (e que tanto queria ver). E dá-lhe check-in, pois a lista é extensa (vide anexo abaixo).

MEUS OBJETIVOS (ADENDO DO PLANO 3):

1) Conhecer a “La Pedreira”, o Templo da Sagrada Família, o Parque Güell e a Casa Battló, de Gaudi.

2) Ir à Torre de Londres, a Abbey Road e ao monumento de Stonehenge, na Inglaterra.

3) Fotografar a mim mesmo (puta breguice!) na frente do Arco do Triunfo e dentro da Catedral de Notre-Dame.

4) Passear pela Times Square e brincar naqueles parques temáticos da Disney (eu também quero apertar a mão do Mickey; dá licença?).

5) E estranhamente: assistir a um pôr-do-sol na Casa da Pirâmide, em São Thomé das Letras, na companhia de um monte de gente chapada (não acredito em homenzinhos verdes, mas um amigo do colégio, bicho-grilo total, sempre me dizia que aquilo é do “balacobaco”).  

Isto é o que eu espero fazer.

Amanhã.

* * *

Mas, hoje, não é dia de quitar o apartamento ou viajar pelo mundo.

Hoje é dia de celebrar os meus 43 anos em companhia da minha mãe e do meu irmão, a família que me restou e o porto-seguro da minha sanidade. Hoje é dia de comer pizza e de me lambuzar de bolo (este ano será um bolo bem vagabundo, comprado na padaria do Pão de Açúcar; é o que dá pra fazer em véspera de fechamento de revista). De beber umas taças de vinho e dormir ligeiramente bêbado na frente da TV, com o coração feliz.

Hoje, garanto, é isto o que eu vou fazer.

Neste 01 de julho de 2013 D.C. (Depois de Cristo) eu realmente não preciso de mais nada.