NESTA DATA QUERIDA
...e o mantenedor deste blog
completa, neste 01 de julho de 2013 D.C. (Depois de Cristo), 43 primaveras. Ou
antes: 43 invernos, porque 43 primaveras é coisa de boiola.
Não me sobrou muito do
ímpeto da adolescência e nem muito daquelas reações destemperadas (bom, mais ou
menos...). Mas o orgulho está aqui, intacto.
Orgulho eu tenho de sobra!
* * *
Em compensação, não tenho nenhum
medo de envelhecer.
Muita gente tem, isso é
normal – daí o sucesso daqueles quadros do “Fantástico” que ensinam as pessoas
a espicharem a média de vida comendo soja, salmão ou berinjela.
Eu, heim? Nem a pau.
* * *
Aqui estou, com meus “óculos
de dirigir à noite”, alguns fios grisalhos no cabelo e um monte deles na barba
(o que é meio esquisito). Aqui estou, pronto para encarar os 50, 60 ou 70 anos
– se as coronárias permitirem e se algum rabo de cometa não ricochetear na
Terra, o que, segundo Isaac Asimov e Carl Sagan (que Deus os tenha!), é bastante
improvável.
Parte dessa determinação é
conformismo; outra parte é a minha incompetência em fazer planos; e a outra parte
é a minha memória, mesmo, que é danada de boa.
* * *
Saudosismo da juventude?
Saudosismo de quê?
Talvez sua adolescência
tenha sido fenomenal e sua juventude, periclitante. Se for o caso, que bom pra
você. Mas as minhas foram bem banais. Noves fora (e uma cicatriz no tornozelo e
outra no pescoço; e uma enxaqueca crônica; e uma dor nas costas que, quando dá
o ar da graça, me faz socar a parede), vivo, hoje, o melhor momento da vida. Não
me sobra muita grana ou mulheres. Mas o que tenho disso aí (quando tenho) é o
bastante pra mim.
Bom mesmo é ter o leme nas mãos.
É saber que, pilotando meu barco sozinho, caso eu não chegue lá (e “lá” é um
conceito bem elástico), é só a mim que devo explicações. E sou muito
compreensivo comigo mesmo: sempre me dou outra chance se achar que falhei
porque, nas tentativas anteriores, as variáveis estavam contra mim.
E muitas vezes, estavam
mesmo.
* * *
Também tem a questão dos planos.
(...)
Planos?
Que planos, cara-pálida?
Cheguei aqui como um daqueles
surfistas malucos que encaram as ondas da Praia de Jaws, no Havaí – não como os
que batem recordes e aparecem na TV, mas como os que vão até lá e se estrepam.
Do ponto de vista de quem assistiu (e do meu próprio ponto de vista, às vezes),
fiz tudo errado, na ordem errada e no tempo errado. E o incrível é que, no fim,
deu tudo certo.
Levei bomba em quase todos
os testes básicos da vida, mas os refiz depois (às vezes dias, anos ou décadas mais
tarde) e fui aprovado com louvor. Descobri que a gente só fracassa em algo se, no
fundo, não quisermos realmente ter sucesso naquilo. Pois, às vezes, a mente
consciente “acha” que alguma coisa deve ser feita, ainda que o inconsciente (o sujeito
barbudo e de maus bofes que vive dentro da gente; decifra-o ou ele te devora)
se recuse, cruze os braços e diga: “não, não e não”.
E não dá pra discutir com o inconsciente,
meu chapa.
Ele sempre tem as melhores
cartas nas mãos. E conhece o seu jogo melhor que você.
* * *
Quanto ao conformismo, a
verdade é a seguinte: muitas vezes, conformar-se é amadurecer.
É entender.
* * *
Quem não fantasiou viver para
sempre?
Quem não quis atrasar o próprio
relógio biológico e enganar a morte?
Quem não quis voltar no
tempo e apagar momentos embaraçosos do passado?
De J. K. Rowling a Weligton
Alfredo da Cruz (o paraibano que faz os serviços gerais aqui no condomínio),
todos vivemos essas fantasias. Mas isto é o que não pode ser. É o que não é.
* * *
Se o futuro a Deus pertence
(copyrights: minha avó), resta-nos
curtir as pequenas-grandes bênçãos do presente. Um flerte na fila do banco, a
consumação de um antigo desejo (a maioria não se consuma, mas até o mais
pessimista dos homens é obrigado a aceitar a lei das probabilidades), uma
promoção merecida ou uma demissão redentora (dependendo da empresa em que você
trabalha).
E colaborar para que essa
joça de mundo rode de forma mais azeitada depois
que a gente partir. Escrever um livro (eu já escrevi dois), ter um filho (ainda
não tive; mas posso ter) e plantar uma árvore (tô fora) são ambições muito legais.
Mas nada se compara a iluminar o caminho de alguém. Seja como for.
Porque, um dia, tudo se
acaba, mesmo.
E a menos que inventem uma
câmara criogênica que realmente funcione (até agora, todos os protótipos
falharam), o único jeito de ser imortal é se tornar uma lembrança imorredoura na
vida de outra pessoa.
* * *
Opa! Espera aí!
Agora eu já sou um mocinho e
tenho alguns planos na manga.
E meus planos são danados
bons! Quer ver?
PLANO 1
Quitar meu apartamento em um
ano (se continuar poupando, é quase certo que conseguirei).
PLANO 2
Dar entrada em outro imóvel
(que pagarei em módicas prestações, já que a ideia é alugá-lo e, assim, ter uma
aposentadoria mais confortável).
PLANO 3
O resto do dinheiro que ganhar
depois dos 45 anos, gastarei viajando. Verei tudo o que ainda não vi (e que
tanto queria ver). E dá-lhe check-in,
pois a lista é extensa (vide anexo abaixo).
MEUS OBJETIVOS (ADENDO DO PLANO 3):
MEUS OBJETIVOS (ADENDO DO PLANO 3):
1) Conhecer a “La Pedreira”,
o Templo da Sagrada Família, o Parque Güell e a Casa Battló, de Gaudi.
2) Ir à Torre de Londres, a Abbey
Road e ao monumento de Stonehenge, na Inglaterra.
3) Fotografar a mim mesmo (puta
breguice!) na frente do Arco do Triunfo e dentro da Catedral de Notre-Dame.
4) Passear pela Times Square
e brincar naqueles parques temáticos da Disney (eu também quero apertar a mão
do Mickey; dá licença?).
5) E estranhamente: assistir
a um pôr-do-sol na Casa da Pirâmide, em São Thomé das Letras, na companhia de
um monte de gente chapada (não acredito em homenzinhos verdes, mas um amigo do colégio,
bicho-grilo total, sempre me dizia que aquilo é do “balacobaco”).
Isto é o que eu espero fazer.
Amanhã.
* * *
Mas, hoje, não é dia de quitar o apartamento ou viajar pelo mundo.
Hoje é dia de celebrar os meus
43 anos em companhia da minha mãe e do meu irmão, a família que me restou e o
porto-seguro da minha sanidade. Hoje é dia de comer pizza e de me lambuzar de bolo
(este ano será um bolo bem vagabundo, comprado na padaria do Pão de Açúcar; é o
que dá pra fazer em véspera de fechamento de revista). De beber umas taças de vinho
e dormir ligeiramente bêbado na frente da TV, com o coração feliz.
Hoje, garanto, é isto o que eu vou fazer.
Neste 01 de julho de 2013
D.C. (Depois de Cristo) eu realmente não preciso de mais nada.