quarta-feira, 24 de abril de 2013

Crônica - Golpes & Cambalachos



ANATOMIA DE UM PICARETA




“O mundo é dos espertos”, reza uma máxima muito popular no Brasil. Que, não por acaso, também inventou aquele famigerado bordão: “o importante é levar vantagem em tudo.”


Fato é que alguns exportam Petróleo e outros, armas de grosso calibre. Quanto a nós, bem... Nós exportamos picaretagem.

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De fato, vamos além: quando há uma “baixa” no mercado interno temos o topete de importar picaretagem de fora. É extensa a lista de celebridades falidas, estelionatários foragidos e terroristas internacionais procurados que já vieram tomar água de coco em nossas praias. Mudam os governos e as eras, mudam os cortes de cabelo e os modismos, mas uma coisa não muda, meu chapa: picaretagem é com a gente mesmo.

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Logo algum brasileiro terá o insight de publicar o “manual do picareta”.

Tipo assim, um livro de auto-ajuda às avessas. Ou antes, o livro definitivo de “auto-ajuda”, já que ninguém visa mais o próprio bem-estar do que um autêntico picareta. Eterno otimista, ele não se recrimina por ser menos brilhante ou trabalhador que seu vizinho de porta. Ao contrário: é um pró-ativo e passa a vida empenhado em mudar este score. Um golpinho aqui, um cambalacho acolá e presto! As compensações falam por si.

Seria ideal que o pretendido livro tivesse uma seção descrevendo os muitos tipos de picaretas. Mais ou menos como aqueles testes das revistas femininas, que segregam os homens em cinco ou seis tipos psicológicos distintos, com os quais as leitoras supostamente devem se identificar ou se precaver.

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Mas aí temos um problema: a coisa mais difícil do mundo é identificar um picareta. Lembre-se: a dissimulação é sua arma; quando quer, ele é mais mimético que um camaleão tímido. Os mais observadores conseguem enxergar sua áurea malévola, identificando ali um sujeito (ou “sujeita”, pois não queremos discriminar ninguém) do qual nunca se deveria comprar uma moto, carro ou fígado de segunda-mão. Não obstante, são uma minoria. As massas são enganadas facilmente pelo picareta.

Sim! É um fato da vida que todo picareta, mais dia menos dia, encontra sua plateia. Sempre haverá alguém disposto a comprar seu currículo falso e a coroá-lo com um régio salário (mais comissão) por um pacote fechado de incompetência, canastrice, falta de comprometimento com o negócio e omissão. E, por ser um vírus corporativo, o picareta continuará a ocupar sua mesa mesmo quando a companhia já tiver ido para as cucuias.

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Outra ideia interessante seria um documentário da National Geographic sobre o modus operandi do picareta. Câmeras diminutas espalhadas em um escritório mostrariam o predador sonso em ação – até veríamos, em câmera lenta, suas vítimas estrebucharem. Um show de realidade e tanto, anote aí o que lhe digo...

Em uma reunião entre o picareta e a chefia (ao som daquelas risadas gravadas que ouvimos nas sitcoms do Canal Sony), veríamos nosso “herói” ludibriar a patronagem com frases de efeito mal e porcamente pinçadas da revista “Isto é Negócios”:

_Decididamente espero uma atitude pró-ativa de minha equipe (o picareta fingindo conhecer a fórmula mágica para transformar uma pastelaria de bairro na principal concorrente do McDonald’s).

_Quero provocá-los e estimulá-los – então, lhes farei perguntas óbvias sobre a empresa em que trabalhamos, de modo a conhecer seus pontos de vista sobre o negócio (o picareta lançando mão de uma estratégia básica para coletar informações vitais sobre o emprego para o qual foi designado a peso de ouro; e para o qual, é claro, não tem nenhuma aptidão).

De certa forma, temos que tirar o chapéu para o picareta: ele é, acima de tudo, um sobrevivente!

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A exemplo de outras temidas criaturas do reino animal, o picareta é duro de matar. Sua tenacidade fenomenal só se equipara às das baratas (que, dizem, seriam as únicas testemunhas oculares de um apocalipse atômico). Então, leitor amigo, não há alternativa: acostume-se a ele!

A menos que o referido vilão cometa um deslize grave (o que só acontece com trainees de picareta, nunca com um picareta sênior), o que o fará ser sumariamente demitido, o mais provável é que ele seja seu companheiro de trabalho por muito e muito tempo. Isto, se não se tornar seu chefe... E até ter um tórrido caso de amor com sua esposa!

Contra o picareta, há uma única defesa: as pessoas de “mentes simples”, que não julgam seus semelhantes pelo curriculum vitae ou pelas fotos que postam no Facebook; ou seja, as que reagem instintivamente à estupidez e, portanto, são “detectoras” natas de picaretas. E o que é melhor: por não estarem subordinadas a eles, podem se dar ao luxo de tratá-los como tal.

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Veja o caso daquele notório picareta que, certa feita, se convidou para almoçar com os colegas de trabalho em uma lanchonete da moda (apesar de ser um grande pão duro e gabar-se de nunca gastar mais de R$ 15,00 em uma refeição).

Todos pediram pratos modestos, coerentes com seus salários, mas o picareta, não: optou por um sanduíche de Presunto de Parma no pão Ciabatta. Percebendo o golpe, a turma contra-atacou com agilidade: decidiu que as comandas seriam pagas individualmente, ao invés de se ratear a conta. E de repente, não mais que de repente, o picareta viu-se em um mato sem cachorro.

Ao saber o quanto custava um sanduíche de Presunto de Parma no pão Ciabatta, o protagonista de nossa fábula surtou: mandou chamar a pobre da garçonete e, agitando a comanda diante da moça, perguntou, com um misto de superioridade e indignação:

_ Este presunto por acaso é de ouro, para custar tão caro?

Ao que a garçonete respondeu, muito coquete:

_Não é de ouro, não sinhô. É de Parma...


TV - Monstros Japoneses



BIG IN JAPAN




Almoçava eu no boteco da esquina quando a velha TV Phillips do estabelecimento foi invadida por atléticos heróis usando uniformes justinhos – eu os definiria como um meio-termo entre uma roupa de balé e um traje de mergulho. Rááá! Rúúú! Ióóóóóóó! Pelos gritos e movimentos frenéticos, logo percebi que eram japoneses, embora usassem aqueles elmos futuristas para manter em segredo suas identidades.

Eram os Power Rangers, claro! Não são da minha época (sou mais contemporâneo do Ultraman e do Ultra-Seven), mas quem não conhece os Power Rangers? Eles estão em qualquer saldão de brinquedos no centro da cidade, em promoções inseridas em embalagens de gomas de mascar e – dia sim, dia não – em reprises da TV aberta.

São recicláveis como o lixo moderno e suas roupas têm as mesmas cores dos cestos seletivos contemporâneos: azul (papel/papelão), amarelo (metal), verde (vidro) e marrom (restos orgânicos). Nada mais moderno e paradoxalmente anacrônico, portanto, que um super-herói japonês!

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Desde a minha infância os super-heróis japoneses levam a fama de fodões, mas quer saber? Eles nada seriam sem seus super-inimigos – aquelas aberrações que vinham de nebulosas ou galáxias desconhecidas (ou, quando o orçamento da série não permitia tamanha extravagância, do laboratório de algum cientista maluco a quem negaram um Prêmio Nobel ou verbas para experimentos militares). Com uma e outra variação no currículo, todos os “Doutores Goris” e “Karras” do mundo são assim.

Digo que os heróis nipônicos devem sua glória aos vilões porque, no fim das contas, não lembramos dos nomes de batismo, pratos prediletos ou signos astrológicos dos Ultramen, Ultra-Sevens e Power Rangers da vida. Só sabemos que eles eram os caras de collant, máscaras de Carnaval e abdomes definidos. Em contrapartida, lembramos dos trejeitos e até das frases de efeito dos vilões. “ZEEEERROOOOO!”, gritava o arquiinimigo do Fantomas, célebre cartoon japonês exibido nos anos 70.

“ZEEEERROOOOO!” – também gritávamos nós, sempre que um colega era pego colando e tinha a prova confiscada, sendo sumariamente condenado à recuperação.

TV é cultura, meu irmão!

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O pouco que vi deste episódio dos Power Rangers mostrou-me que os filmes de monstros japoneses continuam fiéis a si mesmos, resistindo heroicamente à onda de efeitos especiais “moderninhos”.

Os produtores de hoje poderiam usar recursos de modelagem 3D triviais para compor criaturas razoavelmente verossímeis. Mas o fato é que os monstros destes filmes ainda são toscos e desengonçados – exatamente como eram em minha infância. É isso aí: o autêntico monstro japonês tem que ter zíper nas costas e movimentos letárgicos, tipo aqueles bonecões de Olinda ou Joões-Bobos que chamam a freguesia nas portas das borracharias. O bicho tem que ser falso – senão não é monstro japonês!

Outra tradição mantida desde aquele tempo é a pronta identificação que o monstro causa na população de Tóquio, tão logo emerge da baía soltando raios psicodélicos pelas ventas e derrubando prédios de papelão.

“É o terrível Godzilla!”, gritam os populares a caminho do metrô, como se tivessem visto o Ozzy Osbourne fazendo compras em Midtown. Ou: “Oh, não! É o poderoso Mothra! Os testes nucleares o acordaram! Corramos para os abrigos subterrâneos!”

Ou seja: a aparição “surpreendente” do monstro nunca é “tão surpreendente assim”. O monstro é um velho conhecido da vizinhança. Cada novo ataque a Tóquio é apenas a mais nova turnê do “astro”. Francamente, não me surpreenderia se, antes de um novo strike contra o Japão, Rodan ou Ghidorah (eis aí outra convenção “imexível” do gênero: os monstros japoneses sempre têm nomes que lembram remédios para o fígado) explicassem pacientemente suas más-intenções por meio de uma coletiva de imprensa.

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Veja, não estou minimizando o rico folclore destas criaturas. Sei que os monstros japoneses – ao menos os originais, que inspiraram os incontáveis Ultramen e Ultra-Sevens que vieram depois – eram metáforas da bomba atômica (usada militarmente contra o Japão no ápice da Segunda Guerra). Tais filmes carregam, portanto, uma simbologia válida e muito interessante.

Mas é divertido rir deles hoje em dia – até porque me tiravam o sono quando eu usava calças curtas.

E depois: considerando a onda de remakes que assola o cinema americano há uma década e trá-lá-lá, é um alívio constatar que, no Japão, certos sustentáculos continuam em seus devidos lugares. Que venham os terremotos, vazamentos nucleares ou o terrível Mothra (pausa dramática... exclamação).

Os japoneses não se rendem fácil!


Crônica - Vida de Solteiro



O HOMEM SÓ




O programa Larica Total (um estranho cruzamento de TV Pirata e A Cozinha Maravilhosa da Ofélia) é atualmente uma das grandes diversões do mantenedor deste blog. Descobri esta atração (exibida no Canal Brasil) há cerca de três anos, época em que namorava. Se eu gostava de acompanhar as desventuras do solteirão vivido pelo ator Paulo Tiefenhaler (que, em um apartamento infecto, inventa receitas para lá de estapafúrdias com sobras de comida) naquelas circunstâncias, imagine hoje, quando vivo só.    

Sim – porque contrariando Darwin, ouso dizer que o homem opera em dois módulos evolutivos distintos (alternando-se entre um e outro ao longo da vida): selvagem ou comprometido.

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Contando apenas consigo, o selvagem não tem ciclos de acasalamento programados (um privilégio do homem comprometido; talvez o único, afirmam algumas correntes de pensamento). Guerreiro, precisa mentir, fazer bico doce ou investir em carros e aparelhagens de som da pesada para conquistar suas parceiras e espalhar sua semente. Vive aquela eterna incerteza: "será que os deuses me presentearão com uma 'motelada' no próximo sábado?" Afinal, profissionais de sexo “fora”, o futuro (infelizmente) a Deus pertence.

Mas a questão do sexo não é o tópico primordial (esta necessidade fisiológica, por curtos períodos de tempo, pode ser sublimada pelo Campeonato Paulista, uma coleção de selos ou o canal Sexy Hot). Difícil, mesmo, é viver civilizadamente sem uma mulher ao lado.

Sim – nós dividimos o átomo e conquistamos o Everest. Mas sejamos francos: somos incapazes de arrumar nossas camas todos os dias; colocar o lixo pra fora com regularidade; ou organizar um brunch para os amigos que não se resuma a salgadinhos “Torcida” ou (se você for um cara sofisticado!) batatas “Pringles” sabor Select Gourmet.

E é aí que entram as mulheres...

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Um choque que todo homem experimenta ao ir morar sozinho é descobrir que suas cuecas e meias, displicentemente largadas no chão antes do banho matinal, permanecem no mesmo lugar e posição quando ele retorna do trabalho para casa, à noite.

De repente percebemos que essas coisas não são biodegradáveis; não retornam aos seus elementos e “desaparecem” na natureza quando deixamos de olhar para elas. Batizei o fenômeno de “o levante das cuecas”. De uma hora para outra elas deixam de ser as melhores amigas de suas partes pudendas e demandam que você se ajoelhe, que tenha a decência de catá-las e conduzi-las ao roupeiro. É uma humilhação!

Falando em roupeiro: comprei um modelo incrível para meu apartamento. É grande, feito de plástico e tem capacidade para abrigar uma Hong Kong de cuecas. Mas, como não tenho máquina de lavar (recorro a métodos alternativos para mantê-las limpas; lavanderias terceirizadas, a casa de minha mãe etc.), o roupeiro se imbuiu de um estranho peso moral, normalmente não encontrado em objetos inanimados.

O roupeiro me culpa, me cobra. Parece agitar o dedinho energicamente sobre o relógio, impaciente, me lembrando: “estou cheio há quatro dias, você precisa me esvaziar, você precisa lavar suas roupas!” O maldito me assombra como aquele coelho estressado que "pilhava” a Alice do País da Maravilhas. Além do mais, quando está cheio, parece-me hostil, agressivo.

Tenho medo que ele me ataque.
          
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O lixo é outra questão complicada. Cheguei à conclusão de que a indústria faturaria os tubos se projetasse e vendesse sacos de lixo com “fundo falso”. Sabe como é: para nos dar a impressão de que sua durabilidade é maior.

É um porre chegar em casa na “madruga” de sábado, ficar à vontade e, então, ter que calçar novamente sapatos e meias – após descobrir que o cesto está prestes a transbordar (bastando, para isso, adicionar àquela confusão toda uma carteira vazia de Marboro box). A lixeira do prédio parece mais longe de madrugada. E não me pergunte a razão. Certas coisas a gente simplesmente tem que aceitar.

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E ainda há o problema da cama...

Veja: sou um sujeito higiênico. Até aceito dormir no meio da sujeira se não houver alternativa, mas, em circunstâncias normais, não admito poeira, restos de comida ou embalagens vazias de biscoitos no sacrossanto lugar onde descanso meu esqueleto. Não obstante, sejamos francos: que homem solteiro arruma imaculadamente a própria cama todos os dias, com exceção do Padre Marcelo?

O homem é um ser prático – e práticos são seus processos. Pra que arrumar a cama todos os dias se nem sempre dormimos acompanhados? Eu, por exemplo, fiz dos meus lençóis e edredons autênticos origamis. Meus métodos para reorganizar dobras de pano e reinventar o posicionamento de travesseiros superam a mais fértil imaginação. Convenço-me de que estou dormindo em uma cama perfeitamente arrumada e – PIMBA! Durmo com a sensação de que sou um hóspede do Buckingham Palace. Está tudo na mente, campeão. Você só precisa acreditar.

A ingrata tarefa de desencostar a cama da parede e arrumá-la de fato só deve ser levada a cabo em casos extremos. Ou seja: quando você puxar o lençol para cobrir o ombro e, estranhamente, descobrir a nuca ou o cotovelo. Isto é sinal de que a roupa de cama atingiu um tamanho grau de desordem que há o risco de você morrer enforcado durante o sono. Aí sim, é hora de agir!

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Felizmente, tenho a Alaíde.

Alaíde é a diarista que torna o meu “cafofo” genuinamente habitável de quinze em quinze dias. Alguns seguem o Alcorão. Outros, o Novo Testamento.

Eu sigo a Alaíde.

Se a Alaíde disser: “preciso de cândida e de mais perfex!”, lá estou eu, obediente, na fila do supermercado. É um filme sobre mim – mas, paradoxalmente, sou um figurante, cabendo à Alaíde o papel principal.

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No último domingo, em um momento Larica Total, vi-me almoçando três pedaços de pizza que haviam sobrado do sábado retrasado.

Antes de uma refeição, o homem casado encara o prato de comida e filosofa: “Este linguado combina melhor com vinho branco ou tinto?”

São outras as angústias de um homem solteiro.

Em um domingão sombrio, descalço e prestes a almoçar na beira da pia, ele respira fundo e se pergunta: “Será que essa coisa que acabou de sair da minha geladeira pode me matar?”

Alaíde, Alaíde. Olhai por mim!



Literatura - Monteiro Lobato



ANJOS E DEMÔNIOS




Monteiro Lobato – tadinho! – caiu nas malhas da correção política.

É notícia velha, eu sei. Lá se vão meses desde que o CNE – Conselho Nacional de Educação (?!) decidiu vetar o livro “Caçadas de Pedrinho”, de Monteiro Lobato, nas escolas públicas.

A Cuca deve estar rolando de rir em algum grotão cavernoso nas imediações de Taubaté – onde, dizem, fica o verdadeiro Sítio do Picapau Amarelo. Pois o CNE conseguiu o que nem o Boitatá, o Minotauro e outras entidades místicas que visitaram aquele insólito pedaço de chão foram capazes de lograr: o início da desmoralização de um dos maiores autores brasileiros – e sob a pecha de “racista”, o que não é pouca coisa.

A questão ainda suscita debates – e, bem, algumas surpresas: não é que os velhinhos da Academia Brasileira de Letras despertaram de seu sono milenar e se manifestaram contra o veto (ao lado de renomados autores especializados em literatura infanto-juvenil, como Ana Maria Machado e Ruth Rocha)?

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Nos EUA, a Meca do pensamento liberal, Mark Twain (1835-1910), autor dos famosos “As Aventuras de Tom Sawyer” e “As Aventuras de Huckleberry Finn”, também está sendo “demonizado” por intelectuais desocupados. O motivo: a grande incidência de termos como “nigger” e “injun” (hoje, sinônimos pejorativos para “negro” e “índio”) em suas obras.

É uma curiosa “mutação” da censura: historicamente, a mordaça cultural sempre foi aplicada por gente iletrada em gente letrada; hoje, é aplicada por gente letrada em gente “ainda mais letrada”.

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Se fosse para bancar o censor, o mantenedor deste blog nem titubearia: condenaria à fogueira a hilariante “Cartilha do Politicamente Correto” perpetrada pelo Governo Lula. O texto – um flagelo além da salvação, pois foi redigido pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos (que, como autora, é uma grande humorista) – foi o precursor dessa caça às bruxas “light” que a esquerda festiva tenta, em anos recentes, implantar no Brasil.

Elaborada em 2005, essa bobajada partia de uma surreal pesquisa sobre “termos e expressões politicamente incorretas” utilizadas de forma recorrente no país (as quais, no entender dos autores, deveriam ser suprimidas de nosso cotidiano). Quem definiu o Index Proibitorium de jargões foi um militante comunista das antigas, o jornalista Antonio Carlos Queiroz.

E foi um desastre: nem Lula entendeu a razão de o termo “peão” ser considerado pejorativo – mas este não era o maior caroço do angu (com o perdão do neologismo metafórico-culinário): a cartilha também condenava expressões e termos como:

“A COISA FICOU PRETA” (“A frase é utilizada para expressar o aumento das dificuldades de determinada situação, traindo forte conotação racista contra os negros [sic]);

“BAIANADA” (“Expressão pejorativa que atribui aos baianos inabilidade no trânsito e em outras atividades [sic]);

“BEATA” (“O termo deprecia as mulheres que vão com muita frequência às missas e ofícios da Igreja Católica” [sic]);

E, segure-se na cadeira, leitor:

“BARBEIRO” (“O uso da expressão, no sentido de motorista inábil, obviamente é ofensiva ao profissional especializado em cortar cabelo e aparar barba” [sic])

Isn’t that special?

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Se Monteiro Lobato era racista ou não, isso deixa de ser o “X” da questão quando olhamos a coisa em perspectiva.

O racismo é hediondo e condenável – ponto. Da minha parte, jamais me referi informalmente a um negro como “Negão”; a um obeso, como “Gordão”; ou a um gay, como “Biba” ou “Sapatão”. As pessoas têm nomes. E manda a boa educação (coisa que tive em casa) que é através destes que devemos nos dirigir a elas (sendo a recíproca desejável).

Mas a literatura, como qualquer forma de arte, é uma “parabólica” de seu tempo; excetuando-se casos extremos, como a obra “Minha Luta” (“Mein Kampf)”, escrita por Hitler, se há menções racistas ou xenófobas em um livro, isto é sinal de que existia um viés racista na sociedade onde aquele autor viveu. O livro simplesmente sublinha este aspecto. Culpar o autor por isso – 100 anos após a publicação da obra – é quase o mesmo que querer condenar à cadeira elétrica um médico da Idade Média por ter perdido um paciente para a lepra. O médico e a doença são produtos de seu tempo.

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E depois: banir “Caçadas de Pedrinho” – ou qualquer petardo de Monteiro Lobato – das escolas é uma crueldade com as crianças. Coitadinhas: elas  já são vítimas, dia a dia, da deseducação propagada pelas rainhas louras da TV e por pequenos príncipes nórdicos como Justin Beaber, que lhes dizem o que devem pensar, fazer e, acima de tudo, comprar.

Cresci embalado pelas histórias de Monteiro Lobato. Sonhava sentar no colo da Tia Nastácia e comer seus bolinhos (no bom sentido!). Jamais me pareceu enfática a ideia de que fosse uma negra – e nem me ocorria que ela era “apenas” a cozinheira da casa. Tia Nastácia era uma extensão de Dona Benta. Uma de duas avós fofas que eu comparava à minha própria avó (por sinal, dona de um colo aconchegante e igualmente versada na arte dos bolinhos).

Muitas vezes, parceiro, a maldade não está no mundo. Está nos olhos de quem vê.

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Se esse movimento “revisionista” avançar, teremos problemas sérios para entender a evolução da sociedade e de nossa própria espécie (cujos detalhes, muitas vezes, só podem ser pinçados de livros e filmes, fictícios ou não). Se alguns desses produtos são racistas, assim devem ser mantidos – nem que pelo simples propósito de nos darem uma visão de como as coisas “nunca mais deveriam ser”.

Há alguns anos, escrevi um livro sobre um personagem icônico da cultura ocidental – James Bond, o agente 007. Enquanto relia os romances de Ian Fleming (criador do personagem), arrepiavam-me os cabelos da nuca afirmações como: “Bond considerava todos os coreanos macacos, abaixo do homem na escala da evolução.”

É horrível, sim – mas também é um retrato da época em que esses livros foram escritos (a Inglaterra dos anos 50, ainda traumatizada com a Segunda Guerra). Se um autor popular ousava escrever esse tipo de máxima, é porque tinha o apoio de grande parte da sociedade; e isto nos permite entender o quanto a sociedade evoluiu de lá para cá.

E depois: os livros de James Bond (tanto quanto os de Monteiro Lobato) não eram apenas racistas. Também eram divertidos, informativos, bem-escritos e, às vezes, geniais. Como separar o joio do trigo sem descaracterizar completamente essas obras? Mais do que “censura”, essa variação “friendly” da boa e velha caça às bruxas é uma deturpação pura e simples. Alterar o conteúdo de uma obra para “adaptá-la” a uma nova era e contexto é apropriação indevida de propriedade intelectual. 

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A luta para erradicar o “mal” dos livros de Lobato me lembra a situação vivida pelo personagem Alex, de “Laranja Mecânica” (romance escrito por Anthony Burgess em 1962 e adaptado para o cinema por Stanley Kubrick).

Ambientada em um futuro decadente, a história mostrava um esforço patético do Governo Inglês para erradicar a violência da sociedade (no caso, cortesia de hordas de delinqüentes juvenis que matavam, mutilavam e violavam sem qualquer traço de consciência).
Ao colocar as mãos no repulsivo (e ao mesmo tempo, carismático) Alex, as autoridades o submetiam a uma lavagem cerebral cujo propósito era coibir suas emoções, deixando-o virtualmente inofensivo.

O experimento dava certo – até a página 5. Pois o que ninguém sabia era que Alex era grande apreciador da música de Beethoven; e ao eliminar sua compulsão para o “mal”, o experimento também aniquilou tudo o que ele tinha de “bom”: a sensibilidade artística, o gosto sofisticado para a música (ocultos sob as vestes de um criminoso).

É que, às vezes, no processo de eliminar um demônio, acaba-se destruindo um anjo.

Eis aí um tópico para a “Turma dos Direitos Humanos” pensar na cama.

É exercício mais estimulante e produtivo do que varrer a sujeira para debaixo do tapete.



Crônica - Internet / Cultura Pop



CITAR É PRECISO!




Meu novo passatempo no Facebook é atribuir frases de efeito a pessoas ilustres que nunca as disseram. Taí: essa é minha vingança contra o excesso de citações atribuídas a Clarice Linspector e Bob Marley que diariamente pipocam nas redes sociais. Clarice e Bob Marley estão se virando nos túmulos por causa do Google e da “Revista Caras”. Mas como isso aconteceu?

Ora: feita “por” e “para” gente tapada, a “Revista Caras” começou com essa moda de publicar citações de famosos fora de contexto. Desse modo, suas leitoras mentecaptas poderiam fingir ser inteligentes em brunchs, happy hours e afins, destilando pérolas de cultura enquanto besuntavam uma torrada com requeijão ou, sei lá, ajeitavam o mega hair com um menear de cabeça.

E o que o Google tem a ver com isso? Ora: onde diabos você acha que pessoas pouco imaginativas (contratadas ou não da “Revista Caras”) encontram tais frases de efeito?

Em um livro é que não é!

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Indiscutivelmente, o Google é um tipo de deus pagão onisciente e onipresente. Pena que vive chapado! Pense em Zeus cheirando uma carreirinha. Taí – esse é o Google.

Com sua prodigiosa memória, o buscador tem o poder de acondicionar, por anos, palavras há muito lançadas ao vento e materializá-las bem à sua frente em dois passos (“procurar” e “carregar página”). Também pode ensiná-lo a fazer pontos-cruz, consertar vazamentos ou construir uma bomba atômica (desde que você adquira plutônio no Mercado Livre).

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Infelizmente, o Google não sabe contextualizar nada – de fato, esta nem é sua obrigação. Porém, aí é que está: junte um deus sem noção e hordas de fiéis desprovidos de senso crítico e o Apocalipse se torna apenas uma questão de tempo.

Nos hilariantes desvãos da Internet, tenho a impressão de que Bob Marley já opinou sobre tudo – do corte de cabelo da Dilma às condições sub-humanas de Bangu 2. Não é culpa do Bob, claro – o homem está morto há anos. As pessoas é que saem atribuindo a ele todo tipo de aforismo. Quando o Bob não está disponível, vão amolar a Clarice Linspector (1920-1977), que, claro está, também não se acha mais em condições de advogar em causa própria.

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Se os mortos são vilipendiados pelo Google e o Facebook, imagine o que acontece com os vivos (aos quais, tradicionalmente, não se dispensa a mesma deferência concedida a quem já partiu)? Arnaldo Jabor, tadinho, que o diga: não adianta o comentarista jurar de pés juntos (seja por meio do jornal impresso ou da TV) que nunca, never, jamé emitiu esta ou aquela opinião sobre tiazinhas gordas, falta de autoestima ou relacionamentos amorosos. Frases a ele atribuídas (que, de fato, não são dele) continuam a invadir nossos e-mails e profiles.

Chegou um ponto em que o Arnaldo se tornou dois Arnaldos: um é ele mesmo – aquele que o articulista vê todos os dias no banheiro, peladão ou arreganhando os dentes para checar a eficácia de um novo creme dental clareador; o outro é o das citações indevidas. Um Arnaldo “virtual”, que não tem R.G., jamais dirigiu um filme (nesse ponto, é preciso dar algum crédito ao Jabor imaginário!) e que só existe no pensamento de hordas de néscios digitalmente “inclusos”.

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Ao menos, Arnaldo Jabor tem um precedente histórico de vulto: algumas correntes de pensamento afirmam que Sócrates – não o grande jogador do Corinthians, que Deus o tenha; o outro Sócrates, grego de nascença e pensador de profissão – jamais existiu. Ele teria sido uma invenção de seus discípulos, um tipo de “avatar”, uma idealização do pensamento humano.

O que quer dizer o seguinte: se aqueles gregos folgazões (que passavam o dia enrolados em togas a brincar com os "pipis" uns dos outros) não estivessem tão ocupados fazendo mind games com a humanidade, o Facebook, o Google e o Twitter teriam sido inventados dois mil e quatrocentos anos atrás.

Não quero nem imaginar o que teria sido do mundo em face dessa aterradora possibilidade.



Crônica - Cães



AMOR DE CARNAVAL




Os amores de Carnaval já foram cantados em prosa e em verso – são intensos, dizem, mas não “sobem a serra”. Em minha ignorância, não sei se a expressão é empregada em outros lugares, além de São Paulo, capital – aqui, muita gente realmente “desce a serra” para brincar o Carnaval, já que o litoral é um destino comum de quem se dispõe a curtir a Folia. Mas o importante é que qualquer brasileiro conhece a expressão “Amor de Carnaval”. E é sobre um “Amor de Carnaval” que o mantenedor deste blog gostaria de falar esta semana.


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Tudo começou no domingo de Carnaval.

Fazia frio e garoava. Ao embicar o carro na rua de minha mãe, com a determinação de passar uma noite na casa onde cresci (curtindo a nostalgia do meu velho quarto, assim como minha família, antes de regressar ao meu pequeno e solitário apartamento na segunda-feira), eu o vi: alto, moreno, de olhos curiosos e espírito altivo. Acho que foi amor à primeira vista.

Não, não era outro homem, desculpe-me frustrar suas expectativas, leitor sem-vergonha ou hiper-imaginativo. Era apenas o Charles.

Charles, um sheepdog vira-lata.

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Se fosse um cachorro grande e vadio, mal-encarado e cheio de atitude (há vários deles soltos nas ruas da Zona Norte de São Paulo), não teria feito mais do que lançar um olhar de curiosidade sobre o animal. Mas não era o caso. O felpudo e maltrapilho recém-chegado, apesar do porte médio, tinha o indefectível olhar dos filhotes: inquisidor, mas inocente; próprio dos bichos que ainda não tomaram contato com a maldade e a indiferença humanas. Como qualquer bebê-cachorro, me parecia um “crente” – um “crente” na ideia equivocada de que os humanos são os melhores amigos dos cães, rá!, que bela mistificação.

“Charles” – não sei se era este seu nome; foi o que me disseram algumas crianças da rua, dias depois, quando eu tentava levantar o paradeiro do cachorro perdido – sabia como angariar fãs. Quando fechei o portão da garagem, ele apoiou o queixo nas grades e me encarou com pupilas tristes, profundas, que emergiam parcamente de um emaranhado de pelos encardidos. Queria um afago e fiz jus às suas expectativas – mas, com frio e com sono (e confortado por aquela consciência pacificadora que diz: “não é problema meu, não tenho nada a ver com isso”), entrei em casa e esqueci o sheepdog vira-lata até o dia seguinte, quando, esperava, ele já estaria abanando o rabo em outras bandas.

Ledo engano!

* * *

Charles continuou ali por vários dias – até ontem à noite, para ser mais preciso. E enquanto morou na caixa de papelão colocada entre o muro de minha mãe e o de uma vizinha solidária, tornou-se a sensação da Rua Angola, CEP 02479-010 – Lauzane Paulista.

A.C (Antes do Charles), o relacionamento com a vizinha em questão nunca passara de um "bom dia" ou "boa noite" casual. D.C. (Depois do Charles), ela se tornou minha melhor amiga na vizinhança. Foi ela que me ajudou a alimentá-lo regularmente – duas refeições por dia, além de quatro Biscroks e um bifinho; e a passar Frontline na nuca do bicho, aliviando-o do tormento das pulgas e dos carrapatos.

E Charles tinha legiões de pulgas: todas as noites, após brincar com ele e alimentá-lo, eu entrava na casa de minha mãe pelo quintal (mudei-me provisoriamente para lá, até o drama de Charles chegar a uma conclusão), tirava as roupas no lavabo dos fundos e entrava na casa pela cozinha, de cuecas. Era o único jeito de não empestear a propriedade com os parasitas que habitavam a pelagem de nosso hóspede não-oficial.

E o diabo é que, enquanto cuidávamos de Charles, esse conquistador barato lambia nossa mão, oferecia a barriga para uma coçada e saltava como um doido sobre nós. Inicialmente, achei que Charles estivesse a fim da minha perna – sabe o que dizem: cães são atraídos por pernas da mesma forma que sou atraído pela Ana Hickmann ou pela Christiane Pelajo. Mas logo percebi que não era nada disso: Charles queria mesmo era abraçar todo mundo – todo dia, toda hora. 

* * *

Aí começou meu drama: decidi adotar Charles. Sou livre, desimpedido, moro só... Por que não?

Ora, eu lhe digo por quê: diferentemente das pessoas, cães não querem apenas coisas essenciais, como um apartamento, comida e banhos regulares. Cães querem atenção e cuidados. Todo mundo – da minha mãe ao meu irmão, passando pela veterinária do nosso lhasa apso de estimação, Yan (ainda o grande amor da minha vida, apesar da paixão pungente e passageira por Charles) me desmotivaram a fazê-lo.

Apesar de todos os argumentos racionais, eu – que nunca me pautei 100% pela lógica (veja, eu era um desastre em Matemática) – só pensava que Charles, se continuasse na rua, logo seria envenenado pela vizinhança; ou cairia nas garras da Prefeitura, assim que uma denúncia anônima fosse feita por qualquer cidadão que por ali passasse e que se sentisse ameaçado pelo sheepdog dócil, mas doidão, que andava aprontando na Rua Angola, números 95/103 (lembre-se: ele habitava o limite entre dois muros).

Afinal: ao ver-se cercado de atenção por alguns de nós, Charles começou a se achar o “dono do pedaço”. Inclusive, avançou em um incauto lixeiro que tentava fazer seu trabalho na rua, no primeiro dia útil após o Carnaval (Charles pensou que confiscariam sua casa de papelão, o que, para ele, era o “Taj Mahal”). Só sei que o tempo passava, minha afeição por Charles crescia e, impotente, eu não conseguia estruturar nenhum plano brilhante para salvá-lo da injeção letal.

* * *

Trabalhei “no automático” nos últimos dias – apurava, escrevia e participava de reuniões como um zumbi, usando apenas aquela parcela do cérebro reservada às coisas práticas. No mais, minha mente trabalhava furiosamente para solucionar o problema de Charles – que, a rigor, nem sabia que tinha um problema (a inconsciência dos bichos não é mesmo uma benção?).

Conversei com administradores de abrigos para cães (e ouvi coisas escabrosas, que fazem a humanidade descer dois ou três degraus em qualquer escala moral do reino animal – o leitor sabia que muitos cães adotados voltam aos abrigos espancados, mutilados e até violentados por seus donos? Show de bola); inquiria adestradores; apelava às senhorinhas do bairro onde trabalho, o Ipiranga, em busca de soluções para o meu dilema. Os colegas de redação também se movimentaram, agitando contatos em ONGs e até na Prefeitura – tudo sem sucesso.

* * *

Finalmente, estruturei um plano de ação: internaria Charles em um hotelzinho para cachorros, bancaria sua estadia pelo tempo que fosse preciso e, nesse meio tempo, procuraria adestrá-lo, de modo a (algum dia) tentar levá-lo para meu apartamento. Não havia “plano B” – se não desse certo, se ele não se adaptasse ao confinamento da propriedade e às longas manhãs e tardes sozinho, eu teria que devolvê-lo à rua; mas, por cruel que pareça este raciocínio, a lógica pura estava ao meu lado: melhor isso do que nada. Cães não têm dramas de consciência, não se lamentam quando as circunstâncias os levam a morar na sarjeta, mesmo após terem vivido como reis.

Tomada a resolução, consegui implementá-la em dois dias: ontem, antes de voltar à casa de minha mãe, “matriculei” Charles em uma clínica para cães da Casa Verde. Um lugar incrível – fiquei genuinamente emocionado ao constatar que ele existia. Após tantas negativas e argumentos “realistas”, o Céu dos cachorros sem lar estava ali, à minha frente: um casarão muito simpático, nas proximidades do Terminal Casa Verde, gerenciado pela amável Dona Isabel. Eu achara um lugar para Charles, bem melhor que a caixa de papelão onde ele vivera nos últimos dias.

Tudo estava acertado: hoje, por volta das 08h30, uma tratadora viria buscá-lo – e escoltado por mim, Charles se mudaria para a “Ilha de Caras” dos cachorros, onde teria um vidão reservado a poucos quadrúpedes em sua situação.

* * *

Com o coração leve, regressei à casa de minha mãe. Não via a hora de embicar o carro na rua e dar a notícia a Charles... É claro que ele não entenderia nada, mas saltaria em meu colo assim que eu começasse a gesticular, animado – cachorros não entendem palavras, mas entendem o que se esconde por trás das palavras. Seria apenas questão de um mês – talvez dois – e eu teria que desembolsar R$ 1.200,00. Mas, depois – devidamente adestrado pela equipe de Dona Isabel –, Charles se mudaria comigo para meu apartamento na Freguesia do Ó. E aí (permita-me o uso do clichê), seríamos felizes para sempre.

Mas quando cheguei à rua, não havia sinal de Charles. Ou de sua caixa de papelão.

Gelei. Enfim, acontecera: a Prefeitura viera buscá-lo durante o dia, enquanto eu negociava o futuro de Charles com segundos e terceiros. Saltei do carro e entrei em casa batendo as portas. Após ouvir o inevitável, eu teria que localizar Charles e resgatá-lo. E rápido: ouvi dizer que esperam cinco dias antes de sacrificar um animal – tempo, este, em que o suposto proprietário (ou qualquer interessado) poderá reclamá-lo de volta. Mas e se não fosse assim? E se a execução de Charles estivesse marcada para amanhã (hoje) cedo – justamente, quando ele deveria gozar sua redenção?

* * *

Felizmente, não era nada disso.

Era algo MUITO MELHOR.

Charles foi adotado. Às 18h30 de ontem, por um sujeito muito digno, que veio buscá-lo trazendo, a tiracolo, uma cadelinha. Não vi acontecer – naquela hora, acertava com Dona Isabel a hospedagem do sheepdog vira-lata na clínica da Casa Verde. Mas aquela vizinha solidária me deu todos os detalhes: Charles partiu com a mesma alegria com que chegou – encantado com seu novo dono e (óbvio!) com a cachorrinha com quem dividirá o quintal. Nem se deu ao trabalho de olhar para trás, mas quem pode culpá-lo? Em seu lugar, eu faria o mesmo.

A rua de minha mãe está novamente silenciosa, sem Charles pulando de lá para cá – ou fazendo a gente rir com aqueles momentos impagáveis que só os vira-latas sabem proporcionar. Foi memorável, por exemplo, o dia em que Charles convidou outro cachorro vagabundo para conhecer suas maison – a caixa de papelão – e, depois, se arrependeu desse ato solidário: o outro vira-lata, mais malandro do que ele, comeu toda a sua ração e se mandou. Charles “causou” enquanto esteve ali e, por isso, deixou saudades.

A essas alturas, já está bem tosado e cuidado. E nem se chama mais “Charles” – soube, pela veterinária que o salvou (ao colocar um cartaz com a foto do cão na pet-shop do quarteirão, anúncio, este, visto pelo sujeito que o adotou), Dra. Edileuda Rodrigues, que ele foi rebatizado de “Duke” (acredite ou não, era o nome que eu ia lhe dar, se ele fosse morar comigo...). O importante é que está sob os cuidados de um homem de bem. Que Charles (ou Duke, vá lá!) tenha uma longa e feliz vida canina.

Sem aquele pulguento por perto, já posso voltar ao meu pequeno e solitário apartamento na Freguesia do Ó. Que, agora, me parece bem maior – e um pouco mais solitário... 

P.S. 1: lá em casa, cada um agiu a seu modo para resolver o problema do cachorro perdido. Minha mãe e meu irmão rezaram – eu preferi tomar uma atitude. Nesse caso, São Francisco de Assis ajudou. Mas, por via das dúvidas, é bom não contar “apenas” com a turma lá de cima... Um “viva” para o pensamento positivo, dois “vivas” para a AÇÃO positiva. Se não der para pagar um hotel ao cachorro abandonado que “bateu” à sua porta, um cantinho na garagem (para protegê-lo da chuva e de outros representantes de nossa indigna espécie) já será o bastante para que São Francisco de Assis lhe pague uma "breja" no Dia do Juízo Final. 

P.S. 2: Deixo o leitor com algumas imagens de Charles. A última, já com seu visual "2011", pós-adoção. Lá se vai um grande camarada, apesar das pulgas e do jeitão desleixado. That’s it, “bicho”!











Crônica - Internet



"ME CUTUCA, ME CURTE, ME ADICIONA NO FACEBOOK!"




Estou no Facebook, como boa parte dos vertebrados bípedes e falantes deste planeta. E, como boa parte deles, às vezes também me canso da festejada rede social. Que, inclusive, já foi tema de filme coestrelado pelo Justin Timberlake, olha só, que coisa chique!

Não que eu seja implicante – não que eu seja retrógrado. Reconheço as vantagens do serviço (ou será "site de relacionamentos"?), tanto na esfera pessoal, como na profissional (copyrights: Fausto Silva).

O "Facebaak" (ando treinando minha pronúncia em Inglês; não repara, não) se tornou uma ferramenta poderosa do público e das empresas, que, por meio dele, se comunicam ágil e eficazmente. O "Facebaak" também serve para que amigos distantes se reencontrem, amores frustrados se reconstruam (ou se consolidem) etc. etc. etc. Tem, portanto, uma finalidade social válida.

* * *

O "xeeees" da questão é que, como qualquer ambiente onde interajam humanos, este também permite excessos com os quais é difícil conviver. A "falta de noção" – o Mal do Século, em minha opinião – campeia nos perfis, aplicativos e mensagens do "Facebaak".

Veja o caso da minha Tia Nora: é uma senhorinha doce e de bom coração. Mas não conhece limites em sua ânsia de demonstrar afeto. Tia Nora está no “Facebaak” e insiste em me "cutucar" o tempo todo. Como se eu fosse um novo sabor de "Ana Maria" exposto naqueles pontos promocionais do Pão de Açúcar. O pior é que, sempre que isto acontece, o site me incita a revidar: "Tia Nora cutucou você. Cutuque-a de volta!"

Não quero cutucar a Tia Nora. Que falta de decoro, pô!

* * *

Na verdade, há algumas semelhanças entre o "Facebaak" e minha Tia Nora. Em criança, Tia Nora não podia me ver em um cantinho, em uma festa de aniversário ou confraternização do colégio, que logo me empurrava para alguma rodinha de guris, intimando-me a fazer amigos, a socializar. A essas alturas, deu para perceber que, embora eu amasse Tia Nora, ela era um “nó no grão” quando queria!

Livrei-me do jugo de Tia Nora, mas fui socialmente escravizado pelo “Facebaak". Afinal: lá estou eu, quietinho, checando as atualizações dos outros, quando vejo aquela mensagem inconveniente no canto direito superior da tela: "Três de seus amigos conhecem o Barão von der Goltz. Deseja adicionar o Barão von der Goltz à sua lista de amigos?"

Ah, "Facebaak"!

Pare de me apresentar pessoas!

Não quero fazer amigos!

NÃO SOU A PORRA DO GASPARZINHO!

* * *

Sem esquecer, claro, as lições de moral. Estar no "Facebaak" é levar uma lição de moral pelas fuças logo cedo, mesmo que você tenha sido um bom rapaz no caminho de casa para o trabalho – esperando o pedestre atravessar a faixa, distribuindo agasalhos a quem precisa etc. O "Facebaak" te julga, irmão... O "Facebaak" está de olho em você!

O "Facebaak", não. As pessoas que postam atualizações no "Facebaak".

Olha só:

"Hoje descobri que viver é mais que ter dinheiro e poder, é mais que ter o carro ou o telefone celular da moda... Descobri que muito mais importante é confessar meus sentimentos às pessoas que amo! E eu amo meus amigos! E hoje, vou dizer isso a eles! Vocês são MUITO importantes para mim! Se você concorda comigo, compartilhe esta mensagem em seu mural!"

Lindo, lindo...

O problema é que, muitas vezes, o animal que postou isto é o mesmo que sequer deu as caras no hospital em novembro passado, quando você despencou da laje e quebrou duas costelas.

Digam o que disserem, o "Facebaak" desperta o que há de melhor em nós.

* * *

Aos poucos, aprendo que, para se dar bem no "Facebaak", é preciso um pouco de manha... As atualizações, por exemplo, devem sempre parecer pe-ri-cli-tan-tes! Nada de ordinário ou convencional... Isto não dá Ibope. Se você não quer ser esnobado pelos outros, é bom exercitar a criatividade e lançar mão de alguns “salamaleques” linguísticos.

Ao invés de postar isto:

"Calor danado aqui na fila do açougue! 40 graus em Manguinhos!"

Poste isto:

"Churrasco e breja com os amigos logo mais! Rio 40 graus, u-huu!"

Da mesma forma, ao invés de postar isto:

"Rio Tietê transbordou, carango boiando na Marginal, cheiro de bosta da porra... Paulistano só se fode!"

Poste isto:

"Encarando as intempéries de Sampa pra chegar logo em casa e curtir a família. São as águas de março fechando o Verão..."

* * *

Sacou?

No "Facebaak" (assim como na vida real), o importante não é a história em si, mas o jeito de contá-la.

E se você encontrar o Barão von der Goltz por aí, diga que mando lembranças.




Crônica - Coisas do Brasil



O INFERNO É AQUI!




“O Brasil é o Paraíso dos jornalistas e o Inferno dos sociólogos.”

Esta é uma das máximas prediletas do mantenedor deste blog, observador atento das contradições que caracterizam o Brasil e que – sejamos francos – nos fazem seguir em frente. Sim, pois destes disparates brota o humor que resguarda a nossa sanidade dos confiscos, pacotes e alianças políticas abjetas que definem os rumos deste país.

Não é pouca coisa, não. Tom Jobim acertou na mosca quando disse aquela célebre frase: “O Brasil não é para principiantes.”

* * *

Os brasileiros são os únicos seres humanos que nunca saem da fase dos “porquês”.

Em criança, os enigmas são elementares, universais: “Por que o céu é azul?” “Por que a gente morre?” “Por que o cavalo malhado sempre ganha a Bozo Corrida?”

Mas só o brasileiro segue nesta linha incisiva de questionamento após perder os dentes do siso. Nesta fase, de modo geral, outros seres humanos já assimilaram a realidade e são capazes de compreender o que se passa na política, sociedade e TV de seus respectivos países. Antes tivéssemos a mesma sorte!

Nossos “porquês” se acumulam e não há ninguém para nos dar respostas. De fato, revistas como “Quem Acontece” e programas como “Fantástico” aumentam consideravelmente a confusão: por que temos que assistir ao regime do Zeca Camargo e da Renata Ceribelli em rede nacional? Por que ser informado de que, no último sábado, Susana Vieira “caiu no Funk em companhia do D.J. Pocahontas?”

Quem diabos é o D.J. Pocahontas?!

* * *

Quer mais?

Por que um país que mal saiu das fraldas em termos de Democracia já decide seu futuro em urnas eletrônicas, quando os EUA (até onde se sabe, a Meca da Democracia) ainda recorrem a meios mais anacrônicos para eleger seus representantes?

Por que, em São Paulo, motoristas de carros têm que fazer a inspeção ambiental obrigatória, se as Marginais da cidade continuam apinhadas de caminhões fedorentos que atravancam o trânsito e expelem poluição suficiente para matar o Godzilla?

Por que a nova reforma ortográfica – uma das mais radicais “reinvenções” do idioma pátrio – foi implementada no Governo de um homem que era um perfeito ignorante?

Nunca antes na história deste país, viu, menino?


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Por que os altos executivos brasileiros são os mais bem-pagos do mundo, quando nosso salário mínimo é um dos mais baixos – estamos atrás da Argentina, do Equador, da Venezuela e até do Paraguai, que burros, deem nota Zero pra gente.

Por que o piso salarial de um professor, nesta terra esquecida por Deus, é de apenas R$ 1.187,97, enquanto um boçal como José Luiz Datena embolsa R$ 300 mil por mês para apresentar o pior programa da TV depois do “Esquenta”, com Regina Case?

Por que um ignóbil que se auto-intitula “O Palhaço Tiririca” foi o deputado federal mais votado do Brasil, apesar de ter baseado toda sua “campanha” no mote: “não sei o que faz um deputado federal; mas, se eleito, vou descobrir”?


* * *

Por que a mulher que se diz “A Rainha dos Baixinhos” optou por ter uma filha de proveta? Por que o Padre Marcelo e os pastores eletrônicos dão tanto ibope e movimentam milhões se Jesus disse algo assim: “Quando orardes, não fazei como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e esquinas para serem vistos pelos homens”?

Por que pagamos tantos impostos (bem mais que os norte-americanos, dizem), se não temos direito a ensino público de qualidade, a um sistema de saúde decente e sequer a uma aposentaria digna? Por quê, por quê, por quê?!


* * *

Afinal: do que estou reclamando?

Se o Brasil fosse perfeito como uma balada do Eros Ramazzotti, eu não teria sobre o que escrever aqui. No fim das contas, é melhor relaxar. E não esquecer de folhear os jornais amanhã – pois o que for manchete às 08h00 já será piada-pronta na hora do almoço.

Formou-se em Sociologia, nego?

Azar o seu!





Crônica - Contos Eróticos



"COMO VAI SUA TIA?"




Em algum momento da vida, todo homem já se pegou lendo aqueles famigerados “contos eróticos” que são o conteúdo intelectual das revistas pornográficas. Talvez seja uma lei de mercado – mas, aparentemente, é inadmissível que uma publicação tenha apenas fotos de xoxotas. É preciso agregar algumas palavrinhas às imagens, nem que seja para justificar a entrada do produto em gráfica.

Quando eu era menino, o maior “antro” desses relatos era a seção “Fórum” da revista “Ele & Ela”. Já existia a “Playboy”, claro, mas a famosa publicação norte-americana era chique demais para dedicar espaço a esses descalabros, obviamente inventados e (obviamente!) incompatíveis com o slogan da seção “Fórum”: “HISTÓRIAS SEXUAIS VERÍDICAS”

* * *

Se as histórias eram reais por que todas as mulheres daqueles contos eram “fêmeas no Cio, exalando sexo e safadeza” (na vida real, muitas vezes, a gente precisa pagar para pegar uma assim; com o agravante de saber que tudo não passa de atuação!)?

Por que todos os homens eram bem-dotados e infalíveis (me pergunto se alguém já escreveu um conto erótico em que o mocinho “não compareceu”; se escreveu, duvido que alguém publicou)?

E por que todas as tias eram ninfomaníacas obcecadas em dar para os sobrinhos (às vezes também davam para os amigos dos sobrinhos, dependendo da generosidade e do grau de psicose do autor)?

* * *

As tias – pobrezinhas! – eram (e ainda são) vítimas preferenciais das “histórias sexuais verídicas!”. Na vida real, elas costumam ser senhorinhas recatadas, gorduchas, não raro, fãs do Padre Marcelo; tudo muda na seara dos contos eróticos, onde as tias são clones da Luana Piovani (a licença poética é um recurso recorrente nessas ficções!) ou da Mulher-Melancia.

Saem de cena os chinelinhos de crochê, os bordados e os imãs de geladeira das tias “autênticas” – entram em cena os chicotinhos, consolos, biquínis fio-dental e camisinhas comestíveis que as supertias idealizadas pelos autores escondem atrás dos vidros de conserva. “Hum, sobrinho lindo... Como você cresceu! Tá um homenzinho – deixa a titia ver o que você guarda aí, deixa?” (esta é uma frase lapidar dos contos eróticos sobre tias; suspeito que todos sejam variações de uma mesma obra, originalmente publicada em 1802 ou 1803; ou em 1869, o que seria mais coerente...).

* * *

E os títulos, então?

Deve haver algum tipo de concorrência entre os autores do gênero, já que é assombroso o grau de criatividade empregado para titular essas histórias. Tomemos, por exemplo, o tema “Tia”: eis as variações para este filão encontradas no site “Casa dos Contos Eróticos”, que de fato existe (www.casadoscontos.com.br), ao contrário de tias lascivas parecidas com a Luana Piovani ou a Mulher-Melancia:

“COMI MINHA TIA CARENTE” (Autor: “Mr. Thor” / Estilo de abordagem: psicológico).

“A TIA QUE SEMPRE SONHEI” (Autor: “Tomic” / Estilo de abordagem: poético).

“COMI MINHA TIA” (Autor: “Caidinho” / Estilo de abordagem: direto).

“MINHA TIA ERA MUITO SAFADA!” (Autor: “mergulhador” / Estilo de abordagem: opinativo).

“DESCOBRI QUE MINHA TIA É UMA PUTA” (Autor: “Milfs” / Estilo de abordagem: investigativo).

“EU E TITIA NA PRAIA” (Autor: “Researcher” / Estilo de abordagem: geográfico)

“TREPANDO NOS STATES COM A TITIA” (Autor: “Gomes” / Estilo de abordagem: turístico).

“NÃO RESISTI E ACABEI COMENDO MINHA TIA!” (Autor: “Tesudo 22 DF” / Estilo de abordagem: confessional).

“AO INVÉS DE CAFÉ, MINHA TIA ME DEU UM VERDADEIRO CHÁ DE B*#@” (Autor: “Pedro Cachorro” / Estilo de abordagem: irreverente).

“MINHA TIA, EU E UM CAVALO” (Autor: “Perna de 3” / Estilo de abordagem: indefinível).

* * *

A desvantagem dos autores-amadores pornófilos da atualidade é que se acham sujeitos à crítica, diferentemente de seus antecessores, que escreviam para a seção “Fórum”.

Afinal: os sites têm aqueles campos de “comente”, por meio dos quais a plateia pode expressar sua opinião sobre as histórias apresentadas. E quando as histórias não agradam a turma não perdoa: é com um misto de moralismo e indignação estética que os internautas malham o autor anônimo – que às vezes levou dias, senão meses, para escrever seu libelo erótico (quiçá derramando gotas de suor sobre o teclado, senão outros líquidos que nem convém mencionar).

Veja o que fizeram com o pobre autor da obra “Tia Tarada Por Sexo”, outra pérola incestuosa veiculada no “Casa dos Contos Eróticos” (o escriba anônimo se identifica apenas como “O Pintudo de Campinas”):

“Tu é o analfabeto mais sortudo ou mentiroso que eu já vi” (sic).

“Você tem criatividade, garoto, mais dá pra ver que é um pirralho analfabeto.” (sic).

“Realmente, n sabe mm escrever” (sic).

“Faltou contar a parte do final, em que você cai da cama!” (sic).

“Ahhhhhhhh... Gozei” (sic).

“Vou dar uma dica: da próxima vez que for escrever um conto, escreva no Word e passe para o site de contos. O Word corrigirá os erros.” (sic).

“Porra! Acabaram com você, amigo! Eu admito que ouve grandes erros na ortografia, mas o conto foi muito bom. Eu vou reforçar o que o cara ali de cima falou, você é muito sortudo ou é um grande mentiroso. Minha nota é 8.” (sic).

* * *

Da minha parte, inclino-me a concordar com a última crítica. Caro “Pintudo de Campinas”: continue a escrever, pois a prática leva à perfeição. O mesmo vale para o sexo – que, como você comprovará um dia, não está na Internet, mas sim, em algum lugar lá fora.

No mais, já me vou, pois espera por mim “uma fêmea tesuda, carente de sexo, que exala o prazer e que instiga os meus mais profundos desejos sexuais masculinos.” (sic).

Ohhhh..! Uhhhhh..! Ahhhhh!!!

* * *

Foi bom pra você?