quarta-feira, 8 de maio de 2013

Crônica - Supermercados, Cafeterias e Aborrecimentos



A POLÍTICA DO MAU ATENDIMENTO




“Algum produto não encontrado, senhor?”

Paro e penso. Se fosse mesmo "pavio-curto", como alguns amigos dizem que sou, responderia: “Sim, dois: boa vontade e profissionalismo.”

Esta pergunta é pró-forma em uma famosa rede de supermercados brasileira. Trata-se de um paradoxo: por um lado, a empresa oferece produtos diferenciados e investe no layout de suas lojas, sempre moderníssimas e elegantes; por outro, o atendimento é péssimo.
 
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E acho que isto se estendeu à rede de postos de gasolina do mesmo proprietário, inaugurada há alguns anos: na hora de encher o tanque, a única coisa que não se encontra ali é “gen-gen-gente feliz” (parafraseando um jingle criado para a marca há alguns anos). É comum, nestes empórios turbinados, o cliente se deparar com “caixas rápidos” (só pode ser ironia) lotados de gen-gen-gente infeliz, com carrinhos abarrotados de melancias, fraldas e afins.

Enquanto isso, os “caixas lerdos” (deve ser esta a denominação) se acham às moscas. Quando muito, as atendentes conversam, lixam as unhas ou discutem o capítulo de ontem da novela enquanto o consumidor se descabela e busca uma forma de pagar suas compras e fugir daquele inferno. Quase sempre, é mais difícil fazê-lo do que encontrar a saída do Labirinto de Creta.
 
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Nos postos, é a mesma coisa: em vésperas de feriado, filas de carros se estendem das imediações das bombas ao centro das grandes avenidas. Param o trânsito. Os atendentes, recrutados na mesma instituição mental de onde saem os caixas do supermercado, não têm noção de tempo. Servem um cliente de cada vez, em slow motion. Largam a bomba funcionando, passeiam ao redor dos carros, se entrosam no maior papo... Criar soluções para agilizar o serviço? Nem pensar.

Sequer se dão ao trabalho de nos fazer um “sinalzinho” tranquilizador – muitas vezes, isto já resolve tudo –, dando a entender que, mesmo incompetentes, eles se compadecem de nós (afinal, somos humanos!). “Só um minutinho, chefia”, dizem os frentistas de postos mais simples, sem o pedigree da família Diniz. É muito pedir que os da nova rede decorem esta frase e a recitem com um sorriso no rosto?

Heim? Heim?!
 
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Outra curiosidade sobre os estabelecimentos com o “selo de qualidade” Diniz é que eles são “politicamente corretos”. Sim – as minorias têm empregos em suas lojas e, acredito, também nos postos de gasolina, o que é muito bom (e agora não estou sendo irônico). O café de uma loja que frequento, na Avenida Ricardo Jaffet, por exemplo, se transforma na “gaiola das loucas” depois das 15h00. É engraçadíssimo (agora sim, estou sendo irônico).

O que não é engraçado é que os gays, tanto quanto os heterossexuais, são uns imbecis. Sejam os machões do açougue, sejam as bichinhas que valsam entre o café e o Sushi Bar, todos os funcionários parecem formados na mesma escola da desinformação e da grosseria. Outro dia, uma “biba” indignada não deu pra discutir comigo quando afirmei que não tinha gostado da mudança de posição nas gôndolas? Segundo ela, que vociferava contra a minha ignorância de mãozinhas na cintura, serelepe: "as mudanças atendem aos clientes de bom gosto, senhor!" 

A biba também se inflamou com uma senhora que me deu razão, afirmando que o fato de as prateleiras se encontrarem enviezadas dificultava não só a localização dos produtos, como a locomoção dentro do supermercado. Com a mão na testa, coquete, a bicha nos ignorou e voltou aos seus afazeres. "Afffe!"

Aparentemente, a única exigência primordial para ser funcionário da família Diniz é ser gen-gen-gente imbecil.

Dar ou não a bunda é opcional.

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No fim das contas, talvez tudo isto seja uma estratégia. Veja, por exemplo, o “Franz Café”. Sim – ninguém me tira da cabeça que o mau atendimento no “Franz” é um tipo avançado de estratégia comercial; digamos, um “marketing às avessas”. Os criadores da franquia podem ter descoberto que deixar o cliente ao léu, ou observá-lo a fazer acrobacias mímicas com as mãos enquanto os olhos dos atendentes estrategicamente o evitam, são modos de “fixar” a marca na mente do consumidor.

O atendimento letárgico do “Franz” já virou lenda. Quase não se fala mais do “Chocolate Submarino” (se não me engano, este era o nome do café servido com uma barra de chocolate “Surpresa”, que vinha boiando ludicamente na xícara) ou nas “sopas no pão italiano”: o barato é comentar a lerdeza dos atendentes, invariavelmente, uns indolentes.

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Tomar café no “Franz” se tornou um modo cool de matar o tempo. Sempre vou ao “Franz” quando chego adiantado a uma entrevista ou a um compromisso profissional. Ao invés de esperar na recepção de uma produtora ou emissora de TV, procuro um “Franz” nas imediações, peço um café e me preparo para horas e horas de espera contemplativa na calçada, até que um mísero Espresso chegue à minha mesa. Nesse meio-tempo, crianças nascem, moribundos morrem, golpes de estado derrubam presidentes em nações estrangeiras e a Terra navega pelo espaço, sem pressa...

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Deve ser por isso que as lojas do “Franz” têm aquelas gôndolas cheias de livros; provavelmente, alguém já leu “Guerra e Paz” ou “Moby Dick” na íntegra esperando por um prato mais complicado, como o “Rondelli Quatro Queijos” ou o “Raviolone de Abóbora com Queijo Parmesão”. Se você pedir sobremesa, então, terá tempo para escrever uma monografia sobre o assunto!

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O inverno está chegando. E se você quer emoção e aventuras, sugiro que faça o seguinte: ao invés de gastar seu dinheiro em um tour pelas Serras Gaúchas, vá ao “Franz” mais próximo, escolha uma mesa na calçada, pergunte qual é o prato mais demorado e solicite-o à atendente tapada.

Depois, com um sorriso cínico no rosto, enrole-se em seu cachecol e curta a “viagem”.

Será uma noite longa e fria!