quarta-feira, 8 de maio de 2013

Crônica - Insetos e Esquisitices



"QUE BARATO!"




Foi fuçando casualmente o jornal, em busca de um programinha “light” para o fim de semana, que trombei com a seguinte nota:

“Domingo é o último dia para levar as crianças à corrida de baratas no Instituto Biológico. É uma das atrações do ‘Planeta Inseto’. Criadas com ração especial (como todo puro-sangue), os bichos competem em uma pista especial batizada de ‘Baratódromo’.”

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Qualquer gracinha que o mantenedor deste blog queira fazer daqui para frente não superará a realidade dos fatos – e do próprio texto (suspeito ser a transcrição do primeiro parágrafo de um press release), simplesmente hilariante.

Afinal: por que diabos alguém levaria o filho, em pleno domingo, ao “Planeta Inseto”? Nem o casal Nardoni pensou em algo tão cruel para torturar crianças. Imagine só, na segunda-feira, o papo do guri com os coleguinhas, na fila do colégio:

“_Foi ‘da hora’! Papai e eu fomos ao ‘Planeta Inseto’! Assistimos à final da corrida de baratas! As baratas do ‘Planeta Inseto’ são criadas com ração especial, como os puros-sangues! E vocês sabiam que elas competem em uma pista batizada de ‘Baratódromo’?”

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E eu achava ter sofrido na infância, quando era levado aos chatíssimos desfiles militares de 07 de setembro. Não tinha jeito: eu morava a duas quadras do Campo de Marte, em Santana (Zona Norte de São Paulo). Mesmo que eu não fosse ao desfile, o desfile passava ao lado da minha casa.

Também fui vítima da Ditadura!

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Estou de sacanagem – o Planetário (se é que já consertaram aquela joça), o Instituto Biológico, o Instituto Butantã e o Zoo são locais muito bacanas para levar a garotada. Mas sob um prisma didático. Melhor seria ir com o colégio a esses lugares. Ir com o pai e com a mãe é uma tremenda crocodilagem...

E depois: quem realmente acha que qualquer atividade exercida por baratas possa ser “divertida”? Que catzo interessa o que elas comem? E imagine o fuzuê da mulherada se a vencedora da corrida pular o alambrado e for comemorar a vitória com a torcida?

Pensando bem: não sei quem sofre mais com esse tipo de competição. Se as crianças ou as baratas.

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Expostas a toda sorte de perigos em um mundo de gigantes que as odeiam, as “cascudas” estão sujeitas aos maus-tratos e às ações genocidas dos humanos.

Eu mesmo, aos 12 anos, aniquilei dezenas delas munido de um frasco de Rodox. Descobri que borrifar Rodox no ralo do quintal de casa fazia com que o “inimigo” corresse para o bueiro da rua. Alternando-me entre um posto e outro, tive meu dia de General Custer, espalhando exoesqueletos pela calçada.

Com a idade, fiquei bundão. Hoje, chego ao cúmulo de espantar as baratas com o bico do sapato, conduzindo-as até a porta, ao invés de matá-las. Só extermino uma se não tiver jeito – primeiramente, tento uma negociação de paz.

A barata tem a opção de deixar meu território, onde não é bem-vinda, e ir chatear os meus vizinhos (estará me fazendo um favor), antes de levar um pisão ou uma chinelada. Algumas entendem, outras não – isto define seus destinos. Fato é: a ideia de matar qualquer coisa desnecessariamente, hoje, me parece muito idiota.

Tão ou mais idiota que uma “competição de baratas” no “Planeta Inseto”.


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Ao menos, competições esdrúxulas não são privilégios dos brasileiros. Outros povos as cultuam, o que deve fazer uma barata – se é que este bicho é capaz de qualquer reflexão abstrata – se perguntar de onde veio a denominação “sapiens” que sucede o “homo” em nosso pedigree evolutivo.

Há alguns anos, o terrier “Buddy” foi a atração do “Surf Dog Surf-A-Thon”, realizado nos EUA. É isso aí: trata-se de uma iniciativa do “Centro de Animais Helen Woodward”, na qual cães são mandados para o mar amarrados em pranchas de Surf. Bom, heim?


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Os japoneses também se amarram em uma bizarrice. Talvez seja um efeito-ressaca da bomba atômica, sei lá – mas o senso de humor nipônico desafia a nossa compreensão. Eles riem de tudo o que é terrível.

Há alguns anos, assisti a flashes de um programa de TV local em que os competidores eram enterrados vivos, ficando apenas com as cabeças acima da superfície. Enquanto isso, cães ferozes, de presas arreganhadas, rodeavam os crânios espetados na terra e avaliavam se deveriam começar o banquete pelas orelhas, pelo nariz ou pelos olhos. Tudo muito engraçado, saca?

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Aliás: é política de certas províncias japonesas criar atrações esquisitas para incentivar o turismo. Trata-se de um movimento denominado Chiiki Zukuri, inventado para potencializar a economia dessas cidades.

Um exemplo de asneira inventada pelo “Chiiki Zukuri” é a “Briga de Touros de Okinawa”: 800 animais se enfrentam em combates sangrentos, para apreciação de centenas de espectadores. E você achava que a “Farra do Boi” era coisa de país subdesenvolvido...

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No Japão, também temos a “Corrida de Lulas”. Para participar, basta desembolsar 600 ienes em uma lula e inscrevê-la na competição. Estava pensando em oferecer 1.200 ienes (e uma garrafa de pinga 51) ao “nosso” Lula, pra ver como o presidente se sai em uma competição contra outros cefalópodes. Lula tem grandes chances: que outro exemplar da espécie torce para o Corinthians, tem nove dedos e já foi chamado de “meu homem” por Obama? Não tem pra ninguém, rapaz.

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Pior é quando o homem desempenha o papel das lulas e das baratas.

Proibido na Flórida (EUA) desde 1989, o “campeonato de arremesso de anões” (sic) é um must naquele país. Apesar de pressões exercidas por associação como a Little People of America (LPA), há gente entrando com recursos na Justiça para que o “esporte” volte a ser praticado em bares e universidades. Basicamente, o “arremesso de anões” requer um sujeito grandalhão (no caso, o competidor), devidamente “engraxado” com cerveja Budwiser, e outro “verticalmente prejudicado” (fazendo o papel de disco de freezby).

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De todas as atividades excêntricas que existem por aí, acho que eu teria mais chances no “Torneio de Arremesso de Celular”. A prova foi inventada na Finlândia, em 2000. Os juízes levam em conta não só a distância a que o aparelho é arremessado, mas o modo como o competidor o faz. Quanto mais estilo, melhor.

Sem falsa modéstia: sou um Michael Phelps nessa categoria! Arremessei celulares do alto de prédios (verificando, antes, se a trajetória os levaria a terrenos baldios ou a qualquer área desabitada), paredes de hotéis (a esta distância, eles explodem como fogos de artifício; é lindo) e até de um carro em movimento, em plena Marginal do Tietê.

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Também sou perito em “luta de boxe contra eletrodomésticos” – nocauteei quatro ou cinco videocassetes (alguns nunca se recuperaram, mas aprenderam a não morder minhas fitas) – e em “vale-tudo” contra micro-ondas. E, em tempos anteriores à TV a cabo, desenvolvi uma técnica de “chute circular na antena interna”, último e desesperado recurso quando a palha de aço não conseguia remover os “fantasmas” da imagem. Dificilmente dava resultados. Mas meus amigos adoravam!

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É isso aí: iniciei este post condenando a “corrida de baratas”. Mas, na conclusão, já começo a pensar se não será uma boa ideia...

De racionais e de insanos, todos nós temos um pouco.