segunda-feira, 22 de abril de 2013

TV - "A TV que o Tempo Esqueceu"



A TV QUE O TEMPO ESQUECEU




Há coisa de um mês, li um post bem interessante sobre a TV dos velhos tempos no blog do colega de redação Ademir Pernias (www.blogdocidadelas.blogspot.com) – uma reflexão nostálgica sobre a importância desse ilustre eletrodoméstico nos lares dos anos 1960 e 1970, quando as telas ultrafinas e de alta-definição ainda eram delírios da ficção científica.

Valvulados e “sentimentais”, os televisores de outrora – quadradões e limitados em sua programação retrô – definiam TODA a nossa noção de entretenimento (lembre-se: não existia o “home vídeo” e muito menos o YouTube e as redes sociais). Quando eram mandadas para o conserto, era um xororô generalizado – crianças, velhos e adultos lamentavam a sorte das moribundas, entregues aos técnicos e às suas bancadas cheias de parafusos, fusíveis e chaves Philips.

“Será que ela resiste a essa? Está tão velhinha, coitada”, perguntavam-se todos, melancólicos, reunidos na hora do jantar. Quase o mesmo que ter um ente querido internado em estado grave. Tanto quanto os cães e gatos, as TVs eram “membros da família”.

E sem televisão, meu amigo, “no” Perdidos no Espaço, “no” Terra de Gigantes e “no” Rin-Tim-Tim!

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Após ler o post do “Cidadelas”, fiquei me perguntando que fim levaram os programas que frequentavam o “hit parade” da minha infância e adolescência. Os já referidos seriados de Irwin Allen – esqueci de mencionar os igualmente famosos Viagem ao Fundo do Mar (“Controle de danos, fala Nelson: informe!”) e Túnel do Tempo – ainda estão por aí, em reprises esparsas na TV a cabo ou mesmo em DVD (no Brasil, saíram pelo Clube Vídeo Séries, que faz um trabalho e tanto preservando a memória da “TV a lenha” em nosso país).

Mas onde estão as infindáveis edições de O Homem do Sapato Branco (semanalmente apresentado por Jacinto Figueira Júnior, uma espécie de precursor do Ratinho e de todo o mondo cane que hoje impera na telinha)? Onde estão as pornochanchadas que passavam na Sala Especial (“Patrocínio: Uemura!”), devidamente “picotadas” pelos censores (cenas de sexo, ainda que simuladas, só passaram a ser exibidas na TV após 1985)? Onde estão Don e Ravel, os menestréis do Governo Militar que monopolizavam os programas de auditório vespertinos com seus hits detestáveis, como “Obrigado ao Homem do Campo”?

Sumiram, escafederam-se nos turbulentos labirintos desse “infecto tubo de elétrons” (copyrights: Marcelo Tas), junto com o Astros do Ringue (estrelado por Fantomas, Michel Serdan, King Kong e o filho deste último, “King Konguinho”).

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Outra coisa: não há como explicar isso a um cinéfilo da atualidade – mas houve tempo em que esperava-se meses, às vezes um ano, para se curtir um grande clássico da Sétima Arte na TV.

No início dos anos 80, antes do videocassete, a única forma de assistir a Jesus Cristo Superstar ou Superman era entrar em uma máquina do tempo e regressar à época em que a produção fora exibida no cinema – ou então, esperar que a mesma passasse na Globo. Fatalmente, seria em uma noite de sábado – e no horário nobre. Havia quem desmarcasse viagens para não perder o espetáculo (afinal: antes da TV a cabo, talvez fosse virtualmente impossível sintonizar a Globo em uma cidadezinha do interior). Na praia, então, nem pensar: não havia bombril na antena que operasse esse milagre!

Não se trata de mera “figura de linguagem”, visto que deixei de viajar para o interior, em março ou abril de 1984, só para assistir a Superman na televisão.

 Plim-plim!

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Dependendo de nosso grau de empatia com a atração em destaque, apelava-se até a um recurso desesperado para prolongar a sensação de apreciar um bom filme ou seriado na telinha: alguns (inclua-me nessa!) registravam o som do filme utilizando pequenos gravadores analógicos posicionados ao lado da TV. Mais ou menos o que ainda faço em coletivas de imprensa, mas para gravar as falas de CEOs, cineastas e patrocinadores culturais.

Bons tempos, mesmo – ainda que um pouco estranhos...

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Também me pergunto onde estão as celebridades que inspiravam as pessoas naquele tempo. Gretchen, do “Conga, Conga, Conga” (e habitué do meu banheiro na pré-adolescência) ainda está por aí – de fato, acaba de sair de seu 14º casamento. Mas Gretchen é figurinha carimbada, como o Sidney Magal (“Te-nho! Mil olhos para olhar-te!”) e Hebe Camargo. Pertence à estirpe dos highlanders brasileiros, que não morrem e nem desaparecem com tsunamis, vazamentos nucleares ou mesmo hiper-epidemias de dengue.

Refiro-me à Kate Hansen, que tinha coxas poderosas (elas sempre escapuliam de um robe ou minissaia em uma cena sensual) e invariavelmente fazia papéis de alemãs, suecas ou milionárias sem-vergonhas; à Nádia Lippi, musa de Pecado Rasgado e As Três Marias, além de capa da “Playboy” em 1981 (ou seja, também frequentou o meu banheiro); e àquele cantor, Dalto (assim mesmo, sem sobrenome conhecido), que torrou nossa paciência cantando o hit “Muito Estranho” no Programa Raul Gil, no Globo de Ouro e em qualquer atração obscura que, nas priscas eras, cumpria o papel hoje desempenhado pela MTV. Nunca mais ouvi falar dele.

Ninguém sabe, ninguém viu...

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De vez em quando, no YouTube ou no UOL Vídeos, tropeço nessas preciosidades que marcaram minha infância e adolescência. E chego a ficar emocionado ao constatar que realmente existiram – não são delírios de um quarentão prestes a entrar na “fase do esquecimento”.

Por exemplo: no finalzinho dos anos 70 e início dos 80, as Festas eram precedidas por exibições sazonais do Natal da Turma da Mônica – um dos primeiros (senão “o” primeiro) curtas de animação veiculados nacionalmente em nossa TV. Era sempre a mesma coisa –  “pra Mônica um coelhinho, novinho e bem limpinho / Anjinho está contente, ganhou uma harpinha nova” –, mas dava um sabor especial ao fim do ano.

É isso aí, telespectador.

O mundo gira e a Lusitana roda!