ENGENHARIA CINÉFILA
Vai um remake de Ben-Hur estrelado por Ben Stiller?
Relaxa, grande! Em termos de refilmagens, pior que está não fica!
Vem aí outro remake de O
Planeta dos Macacos (1968). Minto, não é um remake – dessa vez é uma
prequel (Rise of the Apes, dirigida
por Rupert Wyatt – quem?!).
Também estão em preparo as refilmagens de Robocop, O Mágico de Oz, Conan – O Bárbaro,
Brinquedo Assassino, A Hora do Espanto e até de Os Pássaros – o que mostra que esse povo realmente não tem medo de
passar vergonha. A tarefa de tentar superar a visão de Alfred Hitchcock para
aquele apocalíptico ataque de gaivotas e melros a pacata comunidade praiana dos
EUA é uma “bucha” de respeito. Mas os produtores não estão muito preocupados: a
certo ponto da pré-produção, chegou-se a cogitar o nome de Martin Campbell para
dar cabo da missão; Martin Campbell – o ridículo realizador de aluguel das
séries Zorro e 007 e auteur daquele clássico inolvidável, fadado a ser reprisado
dia sim, dia não na grade de programação da Globo: Fuga de Absolom.
* * *
Para este escriba, remakes não são um problema – veja, eu
simplesmente não os assisto; embora, de vez em quando, tire o chapéu para uma e
outra dessas presepadas (curti os novos King
Kong e Quadrilha de Sádicos). O
incrível é que ainda existam pessoas (críticos incluídos) que levem remakes a
sério. São idealistas perenes, gente de muito bom coração – o tipo de “pato”
que compra título de clube de campo na lua, se é que o leitor me entende.
Quinze anos de re-imaginações, releituras, repaginações e afins foram
suficientes para provar que certas coisas não podem ser refeitas; ou, antes:
que não estão sendo refeitas da maneira correta.
O erro mais comum dos remakes é desvirtuar o espírito das
obras originais. O problema não é “faltar com o respeito” a essas velharias do
cinema e da TV – mas sim, aniquilar completamente sua motivação inicial. Para
que, por exemplo, fazer um remake de Perdidos
no Espaço (o charme da famosa série era ter, como protagonista, uma família
ingênua, feliz e bem resolvida dos anos 60) e transformar as crianças em
pentelhas hiperativas e os adultos, em indivíduos altamente sexualizados? Para
que refilmar O Planeta dos Macacos e
privar a nova versão dos elementos mais bacanas do longa original – a paranoia
nuclear e a revelação surpreendente de que, afinal, os astronautas tinham
voltado para a Terra, só que em um futuro distante e “nostradâmico”?
* * *
Pelo sim, pelo não, o negócio é apenas ver os remakes
passarem pelo horizonte, como aves de verão – pouco importa para onde vão; a
gente se acostuma com eles e ponto final. O tempo e o julgamento do público se
encarregam de relegar essas porcarias a seu devido lugar, mesmo que “estourem a
boca do balão” na época do lançamento em cinema. Falta estofo, inspiração e
conteúdo a quase todos esses filmes e não há campanha de marketing que supra
essa deficiência a longo prazo.
A moda, agora, é fazer remakes “combo” – ou seja:
re-imaginar logo dois ou três filmes de uma vez (o remake de Sexta-Feira 13, por exemplo, tem
elementos da fita original, dirigida por Sean S. Cunningham em 1980, e também
de suas continuações); é questão de tempo, portanto, até os “criativos” dos
estúdios começarem a cruzar bichos inteiramente diferentes, visando produzir
novos blockbusters sintéticos. Olha só as atrações que podem entrar em cartaz
nos próximos meses em um cinema perto de você:
CAPITÃO KANE
Filmes de super-heróis estão na moda. Para apresentar as
jovens plateias aos clássicos do passado, nada melhor que “repaginá-los” e
turbiná-los com um ingrediente que não pode faltar em um blockbuster atual: SUPERPODERES! Capitão Kane (antigamente, era
apenas Cidadão Kane) é um supermagnata da mídia, proprietário dos jornais “O
Planeta Diário” e “O Clarim”, que combate o crime nesta e em outras galáxias.
Para assumir sua identidade secreta, Capitão Kane se tranca em uma cabine
telefônica e grita “Rosebud”! (a deixa para a inserção de efeitos especiais de
ponta). Direção: Jon Favreau. Participação especial de William Shatner gritando
para a câmera: “Kaaaaaaaneeeee!”
THE CORLEONES
Amálgama de O Poderoso
Chefão e Os Osbournes. Aqui,
vemos a família de gângsteres mais famosa do cinema sob um prisma diferente: a
de um reality show. A figura central é Don Vito (já meio gagá), que passa o
tempo todo soltando frases de efeito, do tipo: “farei a vocês uma proposta que
não podem recusar” ou “um homem que não passa tempo suficiente com a família
nunca será um homem de verdade.” Também há momentos divertidos envolvendo os
problemáticos filhos de Don Vito: no episódio de estreia, o “esquentadinho”
Sonny destroi uma cantina ao constatar que as almôndegas de seu Spaghetti estão
murchas. Já o centrado Michael vai a terapias de grupo tentar aceitar o perfil
marginal da família. Tocante, dinâmico, interativo – uma rajada de balas na
mesmice! Direção: Spike Jonze.
INFERNO NAS DUAS
TORRES
O que é melhor que uma torre em chamas? Ora – duas torres em
chamas! Neste filme-catástrofe-de-época (dirigido por James Cameron e produzido
por Peter Jackson), elfos, orks, n’avis e smurfs unem forças para sobreviver ao
incêndio nas torres norte e sul do World Trade Center – que, em um malabarismo
temporal “jamescameroniano”, foram parar na Terra Média logo após serem
atacadas pelos malucos da al-Qaeda. Entendeu alguma coisa? Nem eu. Mas relaxe:
tudo será explicado na versão estendida do filme (com seis horas e quarenta e
cinco minutos de cenas inéditas!), a ser lançada em DVD por volta de 2014 ou
2015.
JIU-JITSU KID – A
HORA DA VERDADE
Que Senhor Miyagi, o quê! Nesta “re-imaginação” pauleira dos
filmes sobre
“garotos-acossados-que-aprendem-a-lutar-para-darem-uma-lição-nos-valentões-da-escola”,
o cantor Justin Bieber é uma vítima de bulying que vai ao Rio de Janeiro
aprender Jiu-Jitsu com a Família Gracie. De volta aos EUA, Bieber quebra os
dentes de meia dúzia de marmanjos, traça cinco líderes de torcida e ainda dá
uma gravata em Jason, assassino chato-pacas da série Sexta-Feira 13 (participação não-creditada de Alexandre Frota,
usando um saco de supermercado na cabeça). Maneiro! Produção: Jerry
Bruckheimer. Direção: Quentin Tarantino e Eli Roth.
A MUTANTE REBELDE
Este “mix” de A Noviça
Rebelde e X-Men tem tudo para
arrasar nos cinemas. Halle Berry é a carismática governanta das crianças
superdotadas do Professor Xavier e promove uma revolução no sisudo Q.G. dos
mutantes (nesta versão, situado nas montanhas da Áustria). Todos cantam,
dançam, emitem raios de calor pelos olhos e aniquilam nazistas com a força do pensamento.
Supercool! Direção: Baz Luhrmann. Trilha sonora: Danny Elfman e Lady Gaga.
MÁGICO PESADELO
“Combo” de O Mágico de
Oz e Amargo Pesadelo. O
Espantalho (Cillian Murphy), o Homem de Lata (Vin Diesel), o Leão Covarde (Paul
Giamatti) e Dorothy (Dakota Fanning) percorrem a estrada de tijolos amarelos,
fadada a desaparecer por conta da construção de uma represa. No segundo dia de
viagem, o Leão Covarde é estuprado por montanheses mal-encarados (Mark Wahlberg
e Daniel Craig, usando macacões). Dorothy mata um dos agressores com um
arco-e-flecha e o grupo decide encobrir o crime – não só por temer as
implicações com a Justiça, mas para não decepcionar o Mágico de Oz (Morgan
Freeman), a quem pretendem pedir um cérebro, um coração, coragem e (ufa!) uma
passagem de volta para o Kansas. Direção: McG. Participação especial de Justin
Bieber, no papel do menino retardado que toca banjo.
O NÁUFRAGO DE
BROKEBACK MOUNTAIN
Dirigida por Gus Van Sant, esta releitura GLS de Náufrago
também homenageia o filme mais gay da história (depois de 300 e Crepúsculo, é
claro). Ennis del Mar (Brad Pitt, fazendo beicinho), funcionário da Fedex,
sobrevive à queda de um avião, é arrastado pelas correntezas marítima,
desemboca na pororoca e acaba no Wyoming, em região deserta, onde conhece um
palhaço de rodeio recluso que adora comer rosquinhas. Na companhia de seu novo
amor, o náufrago descobrirá com quantos paus se faz uma canoa.
Me amarrota que eu to passado, bofe!