terça-feira, 23 de abril de 2013

Cinema - Remakes



ENGENHARIA CINÉFILA




Vai um remake de Ben-Hur estrelado por Ben Stiller? Relaxa, grande! Em termos de refilmagens, pior que está não fica!


Vem aí outro remake de O Planeta dos Macacos (1968). Minto, não é um remake – dessa vez é uma prequel (Rise of the Apes, dirigida por Rupert Wyatt – quem?!).

Também estão em preparo as refilmagens de Robocop, O Mágico de Oz, Conan – O Bárbaro, Brinquedo Assassino, A Hora do Espanto e até de Os Pássaros – o que mostra que esse povo realmente não tem medo de passar vergonha. A tarefa de tentar superar a visão de Alfred Hitchcock para aquele apocalíptico ataque de gaivotas e melros a pacata comunidade praiana dos EUA é uma “bucha” de respeito. Mas os produtores não estão muito preocupados: a certo ponto da pré-produção, chegou-se a cogitar o nome de Martin Campbell para dar cabo da missão; Martin Campbell – o ridículo realizador de aluguel das séries Zorro e 007 e auteur daquele clássico inolvidável, fadado a ser reprisado dia sim, dia não na grade de programação da Globo: Fuga de Absolom.

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Para este escriba, remakes não são um problema – veja, eu simplesmente não os assisto; embora, de vez em quando, tire o chapéu para uma e outra dessas presepadas (curti os novos King Kong e Quadrilha de Sádicos). O incrível é que ainda existam pessoas (críticos incluídos) que levem remakes a sério. São idealistas perenes, gente de muito bom coração – o tipo de “pato” que compra título de clube de campo na lua, se é que o leitor me entende. Quinze anos de re-imaginações, releituras, repaginações e afins foram suficientes para provar que certas coisas não podem ser refeitas; ou, antes: que não estão sendo refeitas da maneira correta.

O erro mais comum dos remakes é desvirtuar o espírito das obras originais. O problema não é “faltar com o respeito” a essas velharias do cinema e da TV – mas sim, aniquilar completamente sua motivação inicial. Para que, por exemplo, fazer um remake de Perdidos no Espaço (o charme da famosa série era ter, como protagonista, uma família ingênua, feliz e bem resolvida dos anos 60) e transformar as crianças em pentelhas hiperativas e os adultos, em indivíduos altamente sexualizados? Para que refilmar O Planeta dos Macacos e privar a nova versão dos elementos mais bacanas do longa original – a paranoia nuclear e a revelação surpreendente de que, afinal, os astronautas tinham voltado para a Terra, só que em um futuro distante e “nostradâmico”?

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Pelo sim, pelo não, o negócio é apenas ver os remakes passarem pelo horizonte, como aves de verão – pouco importa para onde vão; a gente se acostuma com eles e ponto final. O tempo e o julgamento do público se encarregam de relegar essas porcarias a seu devido lugar, mesmo que “estourem a boca do balão” na época do lançamento em cinema. Falta estofo, inspiração e conteúdo a quase todos esses filmes e não há campanha de marketing que supra essa deficiência a longo prazo.

A moda, agora, é fazer remakes “combo” – ou seja: re-imaginar logo dois ou três filmes de uma vez (o remake de Sexta-Feira 13, por exemplo, tem elementos da fita original, dirigida por Sean S. Cunningham em 1980, e também de suas continuações); é questão de tempo, portanto, até os “criativos” dos estúdios começarem a cruzar bichos inteiramente diferentes, visando produzir novos blockbusters sintéticos. Olha só as atrações que podem entrar em cartaz nos próximos meses em um cinema perto de você:

CAPITÃO KANE
Filmes de super-heróis estão na moda. Para apresentar as jovens plateias aos clássicos do passado, nada melhor que “repaginá-los” e turbiná-los com um ingrediente que não pode faltar em um blockbuster atual: SUPERPODERES! Capitão Kane (antigamente, era apenas Cidadão Kane) é um supermagnata da mídia, proprietário dos jornais “O Planeta Diário” e “O Clarim”, que combate o crime nesta e em outras galáxias. Para assumir sua identidade secreta, Capitão Kane se tranca em uma cabine telefônica e grita “Rosebud”! (a deixa para a inserção de efeitos especiais de ponta). Direção: Jon Favreau. Participação especial de William Shatner gritando para a câmera: “Kaaaaaaaneeeee!”

THE CORLEONES
Amálgama de O Poderoso Chefão e Os Osbournes. Aqui, vemos a família de gângsteres mais famosa do cinema sob um prisma diferente: a de um reality show. A figura central é Don Vito (já meio gagá), que passa o tempo todo soltando frases de efeito, do tipo: “farei a vocês uma proposta que não podem recusar” ou “um homem que não passa tempo suficiente com a família nunca será um homem de verdade.” Também há momentos divertidos envolvendo os problemáticos filhos de Don Vito: no episódio de estreia, o “esquentadinho” Sonny destroi uma cantina ao constatar que as almôndegas de seu Spaghetti estão murchas. Já o centrado Michael vai a terapias de grupo tentar aceitar o perfil marginal da família. Tocante, dinâmico, interativo – uma rajada de balas na mesmice! Direção: Spike Jonze.

INFERNO NAS DUAS TORRES
O que é melhor que uma torre em chamas? Ora – duas torres em chamas! Neste filme-catástrofe-de-época (dirigido por James Cameron e produzido por Peter Jackson), elfos, orks, n’avis e smurfs unem forças para sobreviver ao incêndio nas torres norte e sul do World Trade Center – que, em um malabarismo temporal “jamescameroniano”, foram parar na Terra Média logo após serem atacadas pelos malucos da al-Qaeda. Entendeu alguma coisa? Nem eu. Mas relaxe: tudo será explicado na versão estendida do filme (com seis horas e quarenta e cinco minutos de cenas inéditas!), a ser lançada em DVD por volta de 2014 ou 2015.

JIU-JITSU KID – A HORA DA VERDADE
Que Senhor Miyagi, o quê! Nesta “re-imaginação” pauleira dos filmes sobre “garotos-acossados-que-aprendem-a-lutar-para-darem-uma-lição-nos-valentões-da-escola”, o cantor Justin Bieber é uma vítima de bulying que vai ao Rio de Janeiro aprender Jiu-Jitsu com a Família Gracie. De volta aos EUA, Bieber quebra os dentes de meia dúzia de marmanjos, traça cinco líderes de torcida e ainda dá uma gravata em Jason, assassino chato-pacas da série Sexta-Feira 13 (participação não-creditada de Alexandre Frota, usando um saco de supermercado na cabeça). Maneiro! Produção: Jerry Bruckheimer. Direção: Quentin Tarantino e Eli Roth.

A MUTANTE REBELDE
Este “mix” de A Noviça Rebelde e X-Men tem tudo para arrasar nos cinemas. Halle Berry é a carismática governanta das crianças superdotadas do Professor Xavier e promove uma revolução no sisudo Q.G. dos mutantes (nesta versão, situado nas montanhas da Áustria). Todos cantam, dançam, emitem raios de calor pelos olhos e aniquilam nazistas com a força do pensamento. Supercool! Direção: Baz Luhrmann. Trilha sonora: Danny Elfman e Lady Gaga.

MÁGICO PESADELO
“Combo” de O Mágico de Oz e Amargo Pesadelo. O Espantalho (Cillian Murphy), o Homem de Lata (Vin Diesel), o Leão Covarde (Paul Giamatti) e Dorothy (Dakota Fanning) percorrem a estrada de tijolos amarelos, fadada a desaparecer por conta da construção de uma represa. No segundo dia de viagem, o Leão Covarde é estuprado por montanheses mal-encarados (Mark Wahlberg e Daniel Craig, usando macacões). Dorothy mata um dos agressores com um arco-e-flecha e o grupo decide encobrir o crime – não só por temer as implicações com a Justiça, mas para não decepcionar o Mágico de Oz (Morgan Freeman), a quem pretendem pedir um cérebro, um coração, coragem e (ufa!) uma passagem de volta para o Kansas. Direção: McG. Participação especial de Justin Bieber, no papel do menino retardado que toca banjo.

O NÁUFRAGO DE BROKEBACK MOUNTAIN
Dirigida por Gus Van Sant, esta releitura GLS de Náufrago também homenageia o filme mais gay da história (depois de 300 e Crepúsculo, é claro). Ennis del Mar (Brad Pitt, fazendo beicinho), funcionário da Fedex, sobrevive à queda de um avião, é arrastado pelas correntezas marítima, desemboca na pororoca e acaba no Wyoming, em região deserta, onde conhece um palhaço de rodeio recluso que adora comer rosquinhas. Na companhia de seu novo amor, o náufrago descobrirá com quantos paus se faz uma canoa.

Me amarrota que eu to passado, bofe!