"COMO VAI SUA TIA?"
Em algum momento da vida, todo homem já se pegou lendo
aqueles famigerados “contos eróticos” que são o conteúdo intelectual das
revistas pornográficas. Talvez seja uma lei de mercado – mas, aparentemente, é
inadmissível que uma publicação tenha apenas fotos de xoxotas. É preciso
agregar algumas palavrinhas às imagens, nem que seja para justificar a entrada
do produto em gráfica.
Quando eu era menino, o maior “antro” desses relatos era a
seção “Fórum” da revista “Ele & Ela”. Já existia a “Playboy”, claro, mas a
famosa publicação norte-americana era chique demais para dedicar espaço a esses
descalabros, obviamente inventados e (obviamente!) incompatíveis com o slogan
da seção “Fórum”: “HISTÓRIAS SEXUAIS VERÍDICAS”
* * *
Se as histórias eram reais por que todas as mulheres
daqueles contos eram “fêmeas no Cio, exalando sexo e safadeza” (na vida real,
muitas vezes, a gente precisa pagar para pegar uma assim; com o agravante de
saber que tudo não passa de atuação!)?
Por que todos os homens eram bem-dotados e infalíveis (me
pergunto se alguém já escreveu um conto erótico em que o mocinho “não
compareceu”; se escreveu, duvido que alguém publicou)?
E por que todas as tias eram ninfomaníacas obcecadas em dar
para os sobrinhos (às vezes também davam para os amigos dos sobrinhos,
dependendo da generosidade e do grau de psicose do autor)?
* * *
As tias – pobrezinhas! – eram (e ainda são) vítimas
preferenciais das “histórias sexuais verídicas!”. Na vida real, elas costumam
ser senhorinhas recatadas, gorduchas, não raro, fãs do Padre Marcelo; tudo muda
na seara dos contos eróticos, onde as tias são clones da Luana Piovani (a
licença poética é um recurso recorrente nessas ficções!) ou da Mulher-Melancia.
Saem de cena os chinelinhos de crochê, os bordados e os imãs
de geladeira das tias “autênticas” – entram em cena os chicotinhos, consolos,
biquínis fio-dental e camisinhas comestíveis que as supertias idealizadas pelos
autores escondem atrás dos vidros de conserva. “Hum, sobrinho lindo... Como
você cresceu! Tá um homenzinho – deixa a titia ver o que você guarda aí,
deixa?” (esta é uma frase lapidar dos contos eróticos sobre tias; suspeito que
todos sejam variações de uma mesma obra, originalmente publicada em 1802 ou
1803; ou em 1869, o que seria mais coerente...).
* * *
E os títulos, então?
Deve haver algum tipo de concorrência entre os autores do
gênero, já que é assombroso o grau de criatividade empregado para titular essas
histórias. Tomemos, por exemplo, o tema “Tia”: eis as variações para este filão
encontradas no site “Casa dos Contos Eróticos”, que de fato existe
(www.casadoscontos.com.br), ao contrário de tias lascivas parecidas com a Luana
Piovani ou a Mulher-Melancia:
“COMI MINHA TIA CARENTE” (Autor: “Mr. Thor” / Estilo de abordagem:
psicológico).
“A TIA QUE SEMPRE SONHEI” (Autor: “Tomic” / Estilo de
abordagem: poético).
“COMI MINHA TIA” (Autor: “Caidinho” / Estilo de abordagem:
direto).
“MINHA TIA ERA MUITO SAFADA!” (Autor: “mergulhador” / Estilo
de abordagem: opinativo).
“DESCOBRI QUE MINHA TIA É UMA PUTA” (Autor: “Milfs” / Estilo
de abordagem: investigativo).
“EU E TITIA NA PRAIA” (Autor: “Researcher” / Estilo de
abordagem: geográfico)
“TREPANDO NOS STATES COM A TITIA” (Autor: “Gomes” / Estilo
de abordagem: turístico).
“NÃO RESISTI E ACABEI COMENDO MINHA TIA!” (Autor: “Tesudo 22
DF” / Estilo de abordagem: confessional).
“AO INVÉS DE CAFÉ, MINHA TIA ME DEU UM VERDADEIRO CHÁ DE
B*#@” (Autor: “Pedro Cachorro” / Estilo de abordagem: irreverente).
“MINHA TIA, EU E UM CAVALO” (Autor: “Perna de 3” / Estilo de abordagem:
indefinível).
* * *
A desvantagem dos autores-amadores pornófilos da atualidade
é que se acham sujeitos à crítica, diferentemente de seus antecessores, que
escreviam para a seção “Fórum”.
Afinal: os sites têm aqueles campos de “comente”, por meio
dos quais a plateia pode expressar sua opinião sobre as histórias apresentadas.
E quando as histórias não agradam a turma não perdoa: é com um misto de
moralismo e indignação estética que os internautas malham o autor anônimo – que
às vezes levou dias, senão meses, para escrever seu libelo erótico (quiçá
derramando gotas de suor sobre o teclado, senão outros líquidos que nem convém
mencionar).
Veja o que fizeram com o pobre autor da obra “Tia Tarada Por
Sexo”, outra pérola incestuosa veiculada no “Casa dos Contos Eróticos” (o
escriba anônimo se identifica apenas como “O Pintudo de Campinas”):
“Tu é o analfabeto mais sortudo ou mentiroso que eu já vi”
(sic).
“Você tem criatividade, garoto, mais dá pra ver que é um
pirralho analfabeto.” (sic).
“Realmente, n sabe mm escrever” (sic).
“Faltou contar a parte do final, em que você cai da cama!”
(sic).
“Ahhhhhhhh... Gozei” (sic).
“Vou dar uma dica: da próxima vez que for escrever um conto,
escreva no Word e passe para o site de contos. O Word corrigirá os erros.”
(sic).
“Porra! Acabaram com você, amigo! Eu admito que ouve grandes
erros na ortografia, mas o conto foi muito bom. Eu vou reforçar o que o cara
ali de cima falou, você é muito sortudo ou é um grande mentiroso. Minha nota é 8.” (sic).
* * *
Da minha parte, inclino-me a concordar com a última crítica.
Caro “Pintudo de Campinas”: continue a escrever, pois a prática leva à
perfeição. O mesmo vale para o sexo – que, como você comprovará um dia, não
está na Internet, mas sim, em algum lugar lá fora.
No mais, já me vou, pois espera por mim “uma fêmea tesuda,
carente de sexo, que exala o prazer e que instiga os meus mais profundos
desejos sexuais masculinos.” (sic).
Ohhhh..! Uhhhhh..! Ahhhhh!!!
* * *
Foi bom pra você?