quarta-feira, 24 de abril de 2013

Crônica - Contos Eróticos



"COMO VAI SUA TIA?"




Em algum momento da vida, todo homem já se pegou lendo aqueles famigerados “contos eróticos” que são o conteúdo intelectual das revistas pornográficas. Talvez seja uma lei de mercado – mas, aparentemente, é inadmissível que uma publicação tenha apenas fotos de xoxotas. É preciso agregar algumas palavrinhas às imagens, nem que seja para justificar a entrada do produto em gráfica.

Quando eu era menino, o maior “antro” desses relatos era a seção “Fórum” da revista “Ele & Ela”. Já existia a “Playboy”, claro, mas a famosa publicação norte-americana era chique demais para dedicar espaço a esses descalabros, obviamente inventados e (obviamente!) incompatíveis com o slogan da seção “Fórum”: “HISTÓRIAS SEXUAIS VERÍDICAS”

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Se as histórias eram reais por que todas as mulheres daqueles contos eram “fêmeas no Cio, exalando sexo e safadeza” (na vida real, muitas vezes, a gente precisa pagar para pegar uma assim; com o agravante de saber que tudo não passa de atuação!)?

Por que todos os homens eram bem-dotados e infalíveis (me pergunto se alguém já escreveu um conto erótico em que o mocinho “não compareceu”; se escreveu, duvido que alguém publicou)?

E por que todas as tias eram ninfomaníacas obcecadas em dar para os sobrinhos (às vezes também davam para os amigos dos sobrinhos, dependendo da generosidade e do grau de psicose do autor)?

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As tias – pobrezinhas! – eram (e ainda são) vítimas preferenciais das “histórias sexuais verídicas!”. Na vida real, elas costumam ser senhorinhas recatadas, gorduchas, não raro, fãs do Padre Marcelo; tudo muda na seara dos contos eróticos, onde as tias são clones da Luana Piovani (a licença poética é um recurso recorrente nessas ficções!) ou da Mulher-Melancia.

Saem de cena os chinelinhos de crochê, os bordados e os imãs de geladeira das tias “autênticas” – entram em cena os chicotinhos, consolos, biquínis fio-dental e camisinhas comestíveis que as supertias idealizadas pelos autores escondem atrás dos vidros de conserva. “Hum, sobrinho lindo... Como você cresceu! Tá um homenzinho – deixa a titia ver o que você guarda aí, deixa?” (esta é uma frase lapidar dos contos eróticos sobre tias; suspeito que todos sejam variações de uma mesma obra, originalmente publicada em 1802 ou 1803; ou em 1869, o que seria mais coerente...).

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E os títulos, então?

Deve haver algum tipo de concorrência entre os autores do gênero, já que é assombroso o grau de criatividade empregado para titular essas histórias. Tomemos, por exemplo, o tema “Tia”: eis as variações para este filão encontradas no site “Casa dos Contos Eróticos”, que de fato existe (www.casadoscontos.com.br), ao contrário de tias lascivas parecidas com a Luana Piovani ou a Mulher-Melancia:

“COMI MINHA TIA CARENTE” (Autor: “Mr. Thor” / Estilo de abordagem: psicológico).

“A TIA QUE SEMPRE SONHEI” (Autor: “Tomic” / Estilo de abordagem: poético).

“COMI MINHA TIA” (Autor: “Caidinho” / Estilo de abordagem: direto).

“MINHA TIA ERA MUITO SAFADA!” (Autor: “mergulhador” / Estilo de abordagem: opinativo).

“DESCOBRI QUE MINHA TIA É UMA PUTA” (Autor: “Milfs” / Estilo de abordagem: investigativo).

“EU E TITIA NA PRAIA” (Autor: “Researcher” / Estilo de abordagem: geográfico)

“TREPANDO NOS STATES COM A TITIA” (Autor: “Gomes” / Estilo de abordagem: turístico).

“NÃO RESISTI E ACABEI COMENDO MINHA TIA!” (Autor: “Tesudo 22 DF” / Estilo de abordagem: confessional).

“AO INVÉS DE CAFÉ, MINHA TIA ME DEU UM VERDADEIRO CHÁ DE B*#@” (Autor: “Pedro Cachorro” / Estilo de abordagem: irreverente).

“MINHA TIA, EU E UM CAVALO” (Autor: “Perna de 3” / Estilo de abordagem: indefinível).

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A desvantagem dos autores-amadores pornófilos da atualidade é que se acham sujeitos à crítica, diferentemente de seus antecessores, que escreviam para a seção “Fórum”.

Afinal: os sites têm aqueles campos de “comente”, por meio dos quais a plateia pode expressar sua opinião sobre as histórias apresentadas. E quando as histórias não agradam a turma não perdoa: é com um misto de moralismo e indignação estética que os internautas malham o autor anônimo – que às vezes levou dias, senão meses, para escrever seu libelo erótico (quiçá derramando gotas de suor sobre o teclado, senão outros líquidos que nem convém mencionar).

Veja o que fizeram com o pobre autor da obra “Tia Tarada Por Sexo”, outra pérola incestuosa veiculada no “Casa dos Contos Eróticos” (o escriba anônimo se identifica apenas como “O Pintudo de Campinas”):

“Tu é o analfabeto mais sortudo ou mentiroso que eu já vi” (sic).

“Você tem criatividade, garoto, mais dá pra ver que é um pirralho analfabeto.” (sic).

“Realmente, n sabe mm escrever” (sic).

“Faltou contar a parte do final, em que você cai da cama!” (sic).

“Ahhhhhhhh... Gozei” (sic).

“Vou dar uma dica: da próxima vez que for escrever um conto, escreva no Word e passe para o site de contos. O Word corrigirá os erros.” (sic).

“Porra! Acabaram com você, amigo! Eu admito que ouve grandes erros na ortografia, mas o conto foi muito bom. Eu vou reforçar o que o cara ali de cima falou, você é muito sortudo ou é um grande mentiroso. Minha nota é 8.” (sic).

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Da minha parte, inclino-me a concordar com a última crítica. Caro “Pintudo de Campinas”: continue a escrever, pois a prática leva à perfeição. O mesmo vale para o sexo – que, como você comprovará um dia, não está na Internet, mas sim, em algum lugar lá fora.

No mais, já me vou, pois espera por mim “uma fêmea tesuda, carente de sexo, que exala o prazer e que instiga os meus mais profundos desejos sexuais masculinos.” (sic).

Ohhhh..! Uhhhhh..! Ahhhhh!!!

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Foi bom pra você?