terça-feira, 23 de abril de 2013

Crônica - "Verde que te Quero Verde!"



"VERDE QUE TE QUERO VERDE!"




Sexo, drogas e refeições ricas em betacaroteno e vitaminas que estimulam o intestino: a lição que nos deixou o último "grande concerto de Rock”!


Então, é isso: com um certo atraso, descobrimos que essa história de andar de carro, usar produtos de higiene pessoal, assistir TV e ler livros está acabando com o planeta. Agora, tenha a bondade de visualizar um macaco albino batendo na própria testa e exclamando: “Dought!” Pois é: este é você.

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De repente todo mundo quer ser o sociólogo Betinho ou o 007: a ordem do dia é salvar o mundo, custe o que custar. Se ainda há tempo para salvar alguma coisa, são outros quinhentos: como sempre, o que importa é a “intenção”.

E como não há manuais sobre “Como Salvar o Mundo”, precisamos improvisar: um palpite aqui, dois pitacos acolá e presto: elaboramos uma fórmula para salvar o mundo.

A fórmula para salvar o mundo resume-se a uma palavra (como nos ensina a “profunda” filosofia dos livros de auto-ajuda do “Pão de Açúcar”: a solução para grandes problemas reside em pequenas ações; sobe a música de violinos...): “SUSTENTABILIDADE”.

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Pode ser ignorância deste escriba (provavelmente é), mas nem sei se a palavra “SUSTENTABILIDADE” existe. No Word, dá erro – mas o Word é só um pouquinho mais alfabetizado que o Lula, o que, convenhamos, não é muita coisa; melhor não apostar minhas fichas nesse aplicativo de computador burro, que também desconhece os termos “roteirizar” e “viciante”.

Em contrapartida, sei que o conceito de “SUSTENTABILIDADE” existe – e que é muito lucrativo, justamente por ser tão popular. Basta ver os press-releases dos ambientes criados para as últimas edições da Casa Cor: há mais incidências da dita palavra que de vírgulas, pontos finais, crases... Nem o planeta aguenta mais ouvir falar em SUSTENTABILIDADE: se existisse um iPod do tamanho do Acre, a Terra estaria ouvindo Sepultura, só pra não escutar os discursos naturebas e jingles do PV.

Curioso, mesmo, é que a SUSTENTABILIDADE tenha se tornado um artigo de luxo, como os casacos de chinchila usados pelas mulheres pré-históricas dos anos 70. SUSTENTABILIDADE é “in”. SUSTENTABILIDADE é “Amaury Jr.”. SUSTENTABILIDADE é “SWU”. SUSTENTABILIDADE é caro pacas!

Veja só: um rack para TV feito em madeira MDF custa, no máximo, R$ 500,00 paus. Um rack feito em madeira de demolição (logo, rigorosamente em dia com a SUSTENTABILIDADE), não sai por menos de R$ 4.000,00.

Deve ser mesmo o apocalipse: quando se gasta quatro vezes mais em um produto para salvar o planeta, é hora de entregar o Governo aos golfinhos. Vamos voltar à floresta e, felizes, passar o resto da existência catando piolhos uns dos outros e jogando cocô em nossos vizinhos.

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SUSTENTABILIDADE me lembra outra palavra rejeitada pelo Word: REENGENHARIA.

Nos anos 1990, quando fui ghost-writer (chique!) de uma profissional de Marketing, precisava encaixar o termo em cada duas páginas de um Business Plan, sob o risco de a redação não agradar aos clientes.

Estes, por sua vez, estavam encantados com a REENGENHARIA. Quando digitava o termo no Word, vinha-me à mente a imagem de um engenheiro reconstruindo a mesma obra quatro, cinco vezes, incapaz de implementar a ponte, obelisco ou viaduto de primeira.

Intrigava-me a palavra “REENGENHARIA”, da qual, de certa forma, me tornara escravo. Um dia perguntei à marketeira em questão o que diabo era “REENGENHARIA” no contexto de uma empresa, já que cada diretor ou expert em logística me apresentava uma definição diferente. “Não tenho ideia”, disse-me ela, com um descontraído dar de ombros.

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Hoje, o Word já reconhece a palavra “REENGENHARIA”. Em contrapartida, ninguém mais está interessado nela. O lance, agora, é salvar o mundo. Até segunda ordem, ser empresário ou ativista “verde” é a forma mais segura de ter uma vida SUSTENTÁVEL.

Krig-ha Bandolo!