"VERDE QUE TE QUERO VERDE!"
Sexo, drogas e refeições
ricas em betacaroteno e vitaminas que estimulam o intestino: a lição que nos
deixou o último "grande concerto de Rock”!
Então, é isso: com um certo atraso, descobrimos que essa
história de andar de carro, usar produtos de higiene pessoal, assistir TV e ler
livros está acabando com o planeta. Agora, tenha a bondade de visualizar um
macaco albino batendo na própria testa e exclamando: “Dought!” Pois é: este é
você.
* * *
De repente todo mundo quer ser o sociólogo Betinho ou o 007:
a ordem do dia é salvar o mundo, custe o que custar. Se ainda há tempo para
salvar alguma coisa, são outros quinhentos: como sempre, o que importa é a
“intenção”.
E como não há manuais sobre “Como Salvar o Mundo”, precisamos
improvisar: um palpite aqui, dois pitacos acolá e presto: elaboramos uma
fórmula para salvar o mundo.
A fórmula para salvar o mundo resume-se a uma palavra (como
nos ensina a “profunda” filosofia dos livros de auto-ajuda do “Pão de Açúcar”:
a solução para grandes problemas reside em pequenas ações; sobe a música de
violinos...): “SUSTENTABILIDADE”.
* * *
Pode ser ignorância deste escriba (provavelmente é), mas nem
sei se a palavra “SUSTENTABILIDADE” existe. No Word, dá erro – mas o Word é só
um pouquinho mais alfabetizado que o Lula, o que, convenhamos, não é muita
coisa; melhor não apostar minhas fichas nesse aplicativo de computador burro,
que também desconhece os termos “roteirizar” e “viciante”.
Em contrapartida, sei que o conceito de “SUSTENTABILIDADE”
existe – e que é muito lucrativo, justamente por ser tão popular. Basta ver os
press-releases dos ambientes criados para as últimas edições da Casa Cor: há
mais incidências da dita palavra que de vírgulas, pontos finais, crases... Nem
o planeta aguenta mais ouvir falar em SUSTENTABILIDADE: se existisse um iPod do
tamanho do Acre, a Terra estaria ouvindo Sepultura, só pra não escutar os
discursos naturebas e jingles do PV.
Curioso, mesmo, é que a SUSTENTABILIDADE tenha se tornado um
artigo de luxo, como os casacos de chinchila usados pelas mulheres
pré-históricas dos anos 70. SUSTENTABILIDADE é “in”. SUSTENTABILIDADE é “Amaury
Jr.”. SUSTENTABILIDADE é “SWU”. SUSTENTABILIDADE é caro pacas!
Veja só: um rack para TV feito em madeira MDF custa, no máximo,
R$ 500,00 paus. Um rack feito em madeira de demolição (logo, rigorosamente em
dia com a SUSTENTABILIDADE), não sai por menos de R$ 4.000,00.
Deve ser mesmo o apocalipse: quando se gasta quatro vezes
mais em um produto para salvar o planeta, é hora de entregar o Governo aos
golfinhos. Vamos voltar à floresta e, felizes, passar o resto da existência
catando piolhos uns dos outros e jogando cocô em nossos vizinhos.
* * *
SUSTENTABILIDADE me lembra outra palavra rejeitada pelo
Word: REENGENHARIA.
Nos anos 1990, quando fui ghost-writer (chique!) de uma
profissional de Marketing, precisava encaixar o termo em cada duas páginas de
um Business Plan, sob o risco de a redação não agradar aos clientes.
Estes, por sua vez, estavam encantados com a REENGENHARIA.
Quando digitava o termo no Word, vinha-me à mente a imagem de um engenheiro
reconstruindo a mesma obra quatro, cinco vezes, incapaz de implementar a ponte,
obelisco ou viaduto de primeira.
Intrigava-me a palavra “REENGENHARIA”, da qual, de certa
forma, me tornara escravo. Um dia perguntei à marketeira em questão o que diabo
era “REENGENHARIA” no contexto de uma empresa, já que cada diretor ou expert em
logística me apresentava uma definição diferente. “Não tenho ideia”, disse-me
ela, com um descontraído dar de ombros.
* * *
Hoje, o Word já reconhece a palavra “REENGENHARIA”. Em
contrapartida, ninguém mais está interessado nela. O lance, agora, é salvar o
mundo. Até segunda ordem, ser empresário ou ativista “verde” é a forma mais
segura de ter uma vida SUSTENTÁVEL.
Krig-ha Bandolo!