quarta-feira, 24 de abril de 2013

Crônica - Internet



"ME CUTUCA, ME CURTE, ME ADICIONA NO FACEBOOK!"




Estou no Facebook, como boa parte dos vertebrados bípedes e falantes deste planeta. E, como boa parte deles, às vezes também me canso da festejada rede social. Que, inclusive, já foi tema de filme coestrelado pelo Justin Timberlake, olha só, que coisa chique!

Não que eu seja implicante – não que eu seja retrógrado. Reconheço as vantagens do serviço (ou será "site de relacionamentos"?), tanto na esfera pessoal, como na profissional (copyrights: Fausto Silva).

O "Facebaak" (ando treinando minha pronúncia em Inglês; não repara, não) se tornou uma ferramenta poderosa do público e das empresas, que, por meio dele, se comunicam ágil e eficazmente. O "Facebaak" também serve para que amigos distantes se reencontrem, amores frustrados se reconstruam (ou se consolidem) etc. etc. etc. Tem, portanto, uma finalidade social válida.

* * *

O "xeeees" da questão é que, como qualquer ambiente onde interajam humanos, este também permite excessos com os quais é difícil conviver. A "falta de noção" – o Mal do Século, em minha opinião – campeia nos perfis, aplicativos e mensagens do "Facebaak".

Veja o caso da minha Tia Nora: é uma senhorinha doce e de bom coração. Mas não conhece limites em sua ânsia de demonstrar afeto. Tia Nora está no “Facebaak” e insiste em me "cutucar" o tempo todo. Como se eu fosse um novo sabor de "Ana Maria" exposto naqueles pontos promocionais do Pão de Açúcar. O pior é que, sempre que isto acontece, o site me incita a revidar: "Tia Nora cutucou você. Cutuque-a de volta!"

Não quero cutucar a Tia Nora. Que falta de decoro, pô!

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Na verdade, há algumas semelhanças entre o "Facebaak" e minha Tia Nora. Em criança, Tia Nora não podia me ver em um cantinho, em uma festa de aniversário ou confraternização do colégio, que logo me empurrava para alguma rodinha de guris, intimando-me a fazer amigos, a socializar. A essas alturas, deu para perceber que, embora eu amasse Tia Nora, ela era um “nó no grão” quando queria!

Livrei-me do jugo de Tia Nora, mas fui socialmente escravizado pelo “Facebaak". Afinal: lá estou eu, quietinho, checando as atualizações dos outros, quando vejo aquela mensagem inconveniente no canto direito superior da tela: "Três de seus amigos conhecem o Barão von der Goltz. Deseja adicionar o Barão von der Goltz à sua lista de amigos?"

Ah, "Facebaak"!

Pare de me apresentar pessoas!

Não quero fazer amigos!

NÃO SOU A PORRA DO GASPARZINHO!

* * *

Sem esquecer, claro, as lições de moral. Estar no "Facebaak" é levar uma lição de moral pelas fuças logo cedo, mesmo que você tenha sido um bom rapaz no caminho de casa para o trabalho – esperando o pedestre atravessar a faixa, distribuindo agasalhos a quem precisa etc. O "Facebaak" te julga, irmão... O "Facebaak" está de olho em você!

O "Facebaak", não. As pessoas que postam atualizações no "Facebaak".

Olha só:

"Hoje descobri que viver é mais que ter dinheiro e poder, é mais que ter o carro ou o telefone celular da moda... Descobri que muito mais importante é confessar meus sentimentos às pessoas que amo! E eu amo meus amigos! E hoje, vou dizer isso a eles! Vocês são MUITO importantes para mim! Se você concorda comigo, compartilhe esta mensagem em seu mural!"

Lindo, lindo...

O problema é que, muitas vezes, o animal que postou isto é o mesmo que sequer deu as caras no hospital em novembro passado, quando você despencou da laje e quebrou duas costelas.

Digam o que disserem, o "Facebaak" desperta o que há de melhor em nós.

* * *

Aos poucos, aprendo que, para se dar bem no "Facebaak", é preciso um pouco de manha... As atualizações, por exemplo, devem sempre parecer pe-ri-cli-tan-tes! Nada de ordinário ou convencional... Isto não dá Ibope. Se você não quer ser esnobado pelos outros, é bom exercitar a criatividade e lançar mão de alguns “salamaleques” linguísticos.

Ao invés de postar isto:

"Calor danado aqui na fila do açougue! 40 graus em Manguinhos!"

Poste isto:

"Churrasco e breja com os amigos logo mais! Rio 40 graus, u-huu!"

Da mesma forma, ao invés de postar isto:

"Rio Tietê transbordou, carango boiando na Marginal, cheiro de bosta da porra... Paulistano só se fode!"

Poste isto:

"Encarando as intempéries de Sampa pra chegar logo em casa e curtir a família. São as águas de março fechando o Verão..."

* * *

Sacou?

No "Facebaak" (assim como na vida real), o importante não é a história em si, mas o jeito de contá-la.

E se você encontrar o Barão von der Goltz por aí, diga que mando lembranças.