SHIT!
Patrícia Travassos anda cagando muito. Ao menos é o que a
gente conclui assistindo à série de comerciais do Activia.
Ok, ok: foi um péssimo início de post. Mais grotesco que
isso, só uma balada romântica da Tati Quebra Barraco.
Mas, vendo as propagandas do Activia nos blocos comerciais
da Globo ou do SBT, não é isso o que todo mundo pensa?
* * *
A Patrícia Travassos é linda. Sou apaixonado por ela desde
os anos 80. Patrícia Travassos é roteirista, compositora e uma atriz
carismática. Patrícia Travassos também compôs um hit da minha adolescência (não
sabia disso até poucos dias atrás), “Eu Sou Free”, e ainda era figurinista da
banda Blitz. Um currículo e tanto.
Mas – malditos sejam os comerciais do Activia! –, sempre que
penso nela, agora, a visualizo sentada no vaso...
* * *
Os comerciais do Activia com a Patrícia Travassos chegam a
ser surreais. Quer dizer, quem encontra uma mulher na praia ou no supermercado
e vai perguntando, na lata: “E aí, lindona? Como vai seu intestino?” Esse tipo
de observação, de foro íntimo, requer uma bebidinha antes, uma conversinha, um
jantarzinho à luz de velas...
Só depois de quebrar bem o gelo é que a gente pode invadir
os intestinos de uma mulher. E tem mais: não é uma coisa que se faça em
público, na praia ou na seção de produtos “naturebas” do supermercado.
Decididamente, as pessoas abdicaram da sutileza...
* * *
Imagino que, desde que os comerciais do Activia entraram no
ar, Patrícia Travassos tenha se tornado uma referência de tempo e de lugar.
Tipo assim:
“_Vamos lá, pessoal! É hora de conferir as marcações do
cenário! Quero os atores posicionados em suas marcas! Vamos gravar uma cena
importante da novela!”
“_Seu diretor, desculpe, mas sou um dos figurantes. Não sei
onde devo ficar!”
“_Você se posiciona ali na bomboniére, logo atrás da
Patrícia Travassos. Quero que se movimente atrás dela casualmente, durante uns
cinco segundos, como se estivesse escolhendo uma guloseima.”
“_Atrás de quem?”
“_Da Patrícia Travassos! Aquela ali, ó.”
“_Ah, sei. A gata de intestino solto?”
“_Isso!”
(em off, para outro figurante):
“_Porra, ator iniciante sofre. Olha o que me sobrou! Ficar
atrás da Patrícia Travassos... Já pensou se o Activia faz efeito logo agora?
Vai que a mulher 'dispara' justamente quando estou ali...”
“_Putz, que merda, heim?”
“_Exatamente!”
* * *
No fundo, é tudo bobagem: são apenas comerciais e a Patrícia
Travassos continua linda, talentosa e carismática. O problema é essa associação
cruel que fazemos instintivamente – o ator se confunde com o personagem, mesmo
quando achamos ter discernimento para isolar as duas coisas.
Pior foi o que aconteceu com Reynaldo Gianecchini. Que tal a
campanha do “Shopping Pintos” estrelada pelo galã? Ninguém sabe o que vendem no
“Shopping Pintos”; ninguém sabe onde fica o “Shopping Pintos”; ninguém sabe se
tem “Burger King” na praça de alimentação do “Shopping Pintos”; mas seu
catastrófico slogan se tornou famoso em todo o país: “Shopping Pintos – Tudo o
que Você Mais Gosta, no Lugar Onde Você Sempre Quis”.
É um desastre publicitário, um flagelo promocional – os
criadores da campanha (se não agiram de má-fé) deveriam levar trinta
vergastadas nas nádegas para aprenderem a considerar o fator “duplo sentido” na
elaboração de um slogan. Pode acontecer – e quando acontece, todo mundo sai
perdendo: a marca, a agência, o ator e o produto.
O caso dos Cigarros “Vila Rica” não entrou para a história
por acaso: aquele fatídico bordão – “Leve vantagem em tudo” –, enunciado pelo
ex-jogador Gerson em 1976, foi demonizado pelos patrulheiros da moralidade, que
detectaram na frase um substrato de tudo o que há de errado na cultura
brasileira (corrupção, malandragem etc.). O slogan dos cigarros “Vila Rica”
deixou de ser uma frase publicitária e se tornou um objeto de estudos
sociológicos. “A Lei de Gerson” ainda é citada e discutida em faculdades de
Comunicação e de Ciências Sociais.
* * *
Fica aí uma lição para os publicitários que almejam ser
criativos a todo custo – às vezes, elaborando peças que consideram ser ultra,
megablaster-geniais, mas que depõem contra o produto e a própria marca que
deveriam promover.
E também para os atores – que, seduzidos pelos altos cachês
que circulam no mercado publicitário, podem acabar na mesma “fria” em que entraram
Gerson, Gianecchini e Patrícia Travassos.
Campanhas geradas sem consciência podem ter o mesmo efeito
de uma overdose de Activia:
Bosta por todos os lados!