terça-feira, 23 de abril de 2013

Crônica - "Shit!"



SHIT!




Patrícia Travassos anda cagando muito. Ao menos é o que a gente conclui assistindo à série de comerciais do Activia.

Ok, ok: foi um péssimo início de post. Mais grotesco que isso, só uma balada romântica da Tati Quebra Barraco.

Mas, vendo as propagandas do Activia nos blocos comerciais da Globo ou do SBT, não é isso o que todo mundo pensa?

* * *

A Patrícia Travassos é linda. Sou apaixonado por ela desde os anos 80. Patrícia Travassos é roteirista, compositora e uma atriz carismática. Patrícia Travassos também compôs um hit da minha adolescência (não sabia disso até poucos dias atrás), “Eu Sou Free”, e ainda era figurinista da banda Blitz. Um currículo e tanto.

Mas – malditos sejam os comerciais do Activia! –, sempre que penso nela, agora, a visualizo sentada no vaso...

* * *

Os comerciais do Activia com a Patrícia Travassos chegam a ser surreais. Quer dizer, quem encontra uma mulher na praia ou no supermercado e vai perguntando, na lata: “E aí, lindona? Como vai seu intestino?” Esse tipo de observação, de foro íntimo, requer uma bebidinha antes, uma conversinha, um jantarzinho à luz de velas...

Só depois de quebrar bem o gelo é que a gente pode invadir os intestinos de uma mulher. E tem mais: não é uma coisa que se faça em público, na praia ou na seção de produtos “naturebas” do supermercado. Decididamente, as pessoas abdicaram da sutileza...

* * *

Imagino que, desde que os comerciais do Activia entraram no ar, Patrícia Travassos tenha se tornado uma referência de tempo e de lugar.

Tipo assim:

“_Vamos lá, pessoal! É hora de conferir as marcações do cenário! Quero os atores posicionados em suas marcas! Vamos gravar uma cena importante da novela!”

“_Seu diretor, desculpe, mas sou um dos figurantes. Não sei onde devo ficar!”

“_Você se posiciona ali na bomboniére, logo atrás da Patrícia Travassos. Quero que se movimente atrás dela casualmente, durante uns cinco segundos, como se estivesse escolhendo uma guloseima.”

“_Atrás de quem?”

“_Da Patrícia Travassos! Aquela ali, ó.”

“_Ah, sei. A gata de intestino solto?”

“_Isso!”

(em off, para outro figurante):

“_Porra, ator iniciante sofre. Olha o que me sobrou! Ficar atrás da Patrícia Travassos... Já pensou se o Activia faz efeito logo agora? Vai que a mulher 'dispara' justamente quando estou ali...”

“_Putz, que merda, heim?”

“_Exatamente!”

* * *

No fundo, é tudo bobagem: são apenas comerciais e a Patrícia Travassos continua linda, talentosa e carismática. O problema é essa associação cruel que fazemos instintivamente – o ator se confunde com o personagem, mesmo quando achamos ter discernimento para isolar as duas coisas.

Pior foi o que aconteceu com Reynaldo Gianecchini. Que tal a campanha do “Shopping Pintos” estrelada pelo galã? Ninguém sabe o que vendem no “Shopping Pintos”; ninguém sabe onde fica o “Shopping Pintos”; ninguém sabe se tem “Burger King” na praça de alimentação do “Shopping Pintos”; mas seu catastrófico slogan se tornou famoso em todo o país: “Shopping Pintos – Tudo o que Você Mais Gosta, no Lugar Onde Você Sempre Quis”.

É um desastre publicitário, um flagelo promocional – os criadores da campanha (se não agiram de má-fé) deveriam levar trinta vergastadas nas nádegas para aprenderem a considerar o fator “duplo sentido” na elaboração de um slogan. Pode acontecer – e quando acontece, todo mundo sai perdendo: a marca, a agência, o ator e o produto.

O caso dos Cigarros “Vila Rica” não entrou para a história por acaso: aquele fatídico bordão – “Leve vantagem em tudo” –, enunciado pelo ex-jogador Gerson em 1976, foi demonizado pelos patrulheiros da moralidade, que detectaram na frase um substrato de tudo o que há de errado na cultura brasileira (corrupção, malandragem etc.). O slogan dos cigarros “Vila Rica” deixou de ser uma frase publicitária e se tornou um objeto de estudos sociológicos. “A Lei de Gerson” ainda é citada e discutida em faculdades de Comunicação e de Ciências Sociais.

* * *

Fica aí uma lição para os publicitários que almejam ser criativos a todo custo – às vezes, elaborando peças que consideram ser ultra, megablaster-geniais, mas que depõem contra o produto e a própria marca que deveriam promover.

E também para os atores – que, seduzidos pelos altos cachês que circulam no mercado publicitário, podem acabar na mesma “fria” em que entraram Gerson, Gianecchini e Patrícia Travassos.

Campanhas geradas sem consciência podem ter o mesmo efeito de uma overdose de Activia:

Bosta por todos os lados!