UM DIA, UMA ILHA
... E acabou-se o enlatado americano mais comentado, debatido e assistido dos últimos tempos (a audiência não era uma Brastemp nas últimas temporadas, mas os índices foram satisfatórios até o proverbial “The End”): Lost, aquele dos sujeitos perdidos em uma ilha esquisitíssima onde o tempo e a realidade obedeciam a uma lógica própria, ditada pelo sobrenatural (búúú!) e por mirabolantes delírios da ficção científica (universos paralelos, experiências com o espaço-tempo e outras bizarrices que a gente só vê na revista “Superinteressante” e em palestras na USP).
Teve gente que odiou, teve gente que amou o final.
Descontando-se uma certa pressa narrativa, que deixou em aberto o destino do
personagem principal da série – a Ilha (o que aconteceu com aquele insólito
pedaço de chão depois que os mocinhos cumpriram seus destinos? Eu queria
saber...) –, estou no último grupo.
Para mim foram suficientes as pontas que os roteiristas
amarraram – e as que ficaram soltas, a gente debita na conta do Incrível!
Fantástico! Extraordinário!, que sempre justifica os “olés” que tramas desse
tipo costumam dar na lógica e no bom senso (de fato, elas perdem a graça quando
as coisas são muito explicadas; lembre-se: todo mundo ficava meio frustrado
quando, no fim de um episódio do Scooby Doo, descobria-se que o fantasma era,
na verdade, o invejoso Tio Harry; ou, em uma variação menos imaginativa, o
mordomo!).
* * *
O interessante a respeito de Lost (sem estragar a surpresa
para quem não viu o final) é que sua conclusão atesta uma tendência
aparentemente irreversível para esse gênero de produção – até bem pouco tempo
atrás, domínio absoluto de realizadores sensacionalistas: a adoção de um viés
espiritualista que dê algum sentido (ou ao menos, uma justificativa) para
histórias tão cheias de improbabilidades.
É um approach que Hollywood vem experimentando desde os
sutis O Sexto Sentido e Os Outros. Os roteiristas de hoje não ignoram mais as
implicações metafísicas/religiosas de um enredo sobre “poltergeists”, assombrações
e similares. Sinal de que o mundo está mais espiritualizado? Talvez.
Fato é: lá se vai uma ilha que proporcionou diversão a muita
gente. E que, no processo de assustar e entreter – vá lá! –, nos fez pensar um
pouco naquilo que virá depois daqui; em pessoas que amamos e perdemos – e que
esperamos rever um dia, só que em "um lugar melhor" (eu não acredito
nisso, mas queria acreditar); e naquela questão fundamental que, via de regra,
segue sem resposta até ser tarde demais: estamos mesmo cumprindo o nosso
destino? Ou chafurdando inutilmente na trilha errada?
Hum...
Nada mal para uma série coestrelada por um monte de
fantasmas.
E por um monstro de fumaça!