segunda-feira, 22 de abril de 2013

Crônica - Redes Sociais / Gente Estranha



LOGADOS E PERIGOSOS



Os malucos de Internet estão à solta: pegam um, pegam geral, também vão pegar você!



“Oi! Queria ser seu amigo na Internet! Me add aí!”

De uns tempos pra cá, a frase, simpática em primeira instância, se tornou tão perigosa quanto o nefasto (e muito manjado): “seu computador pode estar em risco. Clique aqui e faça um scanner gratuito em todos os seus arquivos” (normalmente esta é a deixa para que um vagabundo qualquer roube as senhas e informações pessoais do seu computador, com propósitos que não incluem lhe enviar cartões do Garfield na Páscoa ou no Natal).

Ocorre que – nem sempre, mas muitas vezes – esse “me add aí” esconde um personagem moderno que ganha relevância no mundo de alta conectividade em que vivemos: “o maluco de internet.” Sim, posso visualizá-lo daqui: dedos trêmulos sobre o mouse, lascas de batatas Pringles na gola amarrotada, olhos grandes e ansiosos por trás das lentes dos óculos... E todos aqueles sites de sacanagem em sua lista de “favoritos”, pois o maluco de internet, como ser virtual e intangível que é, não trepa e não estabelece qualquer tipo de relacionamento no mundo real.

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E aí é que está o problema, leitor: uma vez que você o faz (ou, ao menos, tenta!), este “encosto" virtual com ampla ficha corrida na internet (o cara já arrumou encrenca com uma pá de gente da web antes de cruzar seu caminho; e em sua autocondescendência ilimitada, acha que o mundo todo está errado, não ele) mais cedo ou mais tarde vai pegá-lo para Cristo.

O maluco de internet é um idealista: ao fuçar em seus álbuns do Orkut e do Facebook, não se conforma em vê-lo trabalhando, estudando, construindo... Quer atraí-lo para sua causa: um mundo perfeito onde todos joguem a “Colheita Feliz” e tenham avatares no “Second Life”. Você pode odiá-lo, pode até temê-lo, mas o maluco de internet só quer o seu bem... Sua grande ambição é resgatá-lo da medonha realidade. Mesmo que você não queira ser resgatado!

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Quem não teve alguma experiência desagradável com malucos de internet que dispare o primeiro span.

Eu tive. E me arrependo de não ter escutado a vozinha interior que sempre me previne sobre buracos na Marginal do Tietê ou mudanças climáticas bruscas quando abri o portão e deixei um doido entrar no meu quintal. Lembro-me do meu indicador sobre o botão do mouse, minha momentânea indecisão diante do "me add aí!" (a consciência me lembrando que é dever do cidadão socializar, dividir experiências; meu “eu” interior, prático e realista, dizendo: “manda esse cara pastar!”). Se fosse possível voltar no tempo, teria clicado no salvador “não desejo adicionar”, ao invés de no catastrófico “desejo adicionar”.

Mas aí já era tarde...

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Teve um maluco de internet (ele se apresentou como cinéfilo e colega de profissão, ganhando o meu respeito – tolo, tolo, tolo!) que encasquetou que eu era a cara do Homem-Aranha (?). Transformou isto em um debate no Orkut e, decidido a provar que eu era o Peter Parker emo do filme (afinal, tenho cabelo caído na testa desde os três anos de idade; se isto não me faz um precursor da banda Fresno, nada mais o fará!), postou, no fórum em questão, um link para o meu álbum de fotos (antes que o Orkut criasse as ferramentas de privacidade que, hoje, isolam as pessoas normais dos malucos de internet). E aí o inferno ficou solto.

Outros malucos de internet, farejando sangue, começaram a me atacar (assim como às pessoas listadas em meu profile) com ofensas desconexas, que não tinham qualquer relação com a “profunda” discussão inicial (se eu era ou não o Homem-Aranha – dãããã!). Minha página de recados ficou cheia de mensagens postadas por gente que eu nunca vira na vida, achincalhando o lugar onde passo férias em janeiro (São José dos Pinhais), a configuração dos móveis da minha sala de estar, meus familiares e até o meu cachorro. Quando a coisa começou a descambar para o linchamento virtual, contatei diretamente o responsável pela lambança, através de depoimento, e solicitei que o link para o meu álbum de fotos fosse apagado – do contrário, apelaria à Lei para garantir minha privacidade.

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E foi só isso. Não recorri sequer ao clássico: “você receberá uma ligação do meu advogado!”, que sempre funciona nos filmes. O post foi prontamente apagado – mas, por precaução, bloqueei o bobalhão na minha página do Orkut. Nunca mais ouvi falar dele – até outro dia, quando o flagrei em uma lista de discussão na internet, lamentando-se com aquela autocomiseração típica de sua espécie (o maluco de internet sempre se vê como a vítima, nunca como o vilão; em seu entendimento, ele é "o coitadinho que a mamãe não amou"): “O Torelli quase me processou uma vez... mas é um ótimo jornalista.”

Bem, grato pela preferência. E desculpe se agi como um babaca na ocasião, mas estava sob o efeito de pesados antidepressivos. Curei-me do mal parando de assistir a filmes de super-heróis (eles são contra-indicados a maiores de 12 anos) e me comprometendo a tomar ao menos dois banhos de sol por dia, ao invés de mofar na frente do computador brigando, amando e desperdiçando minha vida na Internet.

E desculpe ser eu a lhe dizer isso, porque não gosto de destruir as esperanças das pessoas, mas... Bem, o Homem-Aranha não existe. Relaxe, você vai superar.

* * *

A lição que este episódio ensina é que o Orkut e o Facebook são apenas “cartões de visitas” cheios de fotos, gifts animados e musiquinhas. O fato de frequentar meu profile não o torna meu amigo íntimo – e consequentemente, não lhe dá o direito de peidar na minha sala, mijar no meu quintal ou comer a minha irmã. Até que se prove o contrário, somos apenas fotinhos 3X4 nos murais virtuais de terceiros. E isto, convenhamos, não é muita coisa...

O lado positivo do maluco de internet é que podemos nos livrar dele com um simples toque – para isso inventaram a tecla “delete” do computador. Se um deles invadir seu quintal e começar a revirar o seu lixo, basta “deletá-lo”. E se tudo falhar, basta “deletar” a si mesmo do Orkut, Facebook ou qualquer rede social que venha a ser inventada.

O maluco de internet não acreditaria nisso, mas há provas documentadas de pessoas que, no passado, conseguiram sobreviver sem nunca se logar em um site ou conversar por MSN. Aristóteles foi um deles. E Mussum também.

Duvida?

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