LOGADOS E PERIGOSOS
Os malucos de Internet estão à solta: pegam um, pegam geral, também vão pegar você!
“Oi! Queria ser seu amigo na Internet! Me add aí!”
De uns tempos pra cá, a frase, simpática em primeira
instância, se tornou tão perigosa quanto o nefasto (e muito manjado): “seu
computador pode estar em risco. Clique aqui e faça um scanner gratuito em todos
os seus arquivos” (normalmente esta é a deixa para que um vagabundo qualquer
roube as senhas e informações pessoais do seu computador, com propósitos que
não incluem lhe enviar cartões do Garfield na Páscoa ou no Natal).
Ocorre que – nem sempre, mas muitas vezes – esse “me add aí”
esconde um personagem moderno que ganha relevância no mundo de alta
conectividade em que vivemos: “o maluco de internet.” Sim, posso visualizá-lo
daqui: dedos trêmulos sobre o mouse, lascas de batatas Pringles na gola
amarrotada, olhos grandes e ansiosos por trás das lentes dos óculos... E todos
aqueles sites de sacanagem em sua lista de “favoritos”, pois o maluco de
internet, como ser virtual e intangível que é, não trepa e não estabelece
qualquer tipo de relacionamento no mundo real.
* * *
E aí é que está o problema, leitor: uma vez que você o faz
(ou, ao menos, tenta!), este “encosto" virtual com ampla ficha corrida na
internet (o cara já arrumou encrenca com uma pá de gente da web antes de cruzar
seu caminho; e em sua autocondescendência ilimitada, acha que o mundo todo está
errado, não ele) mais cedo ou mais tarde vai pegá-lo para Cristo.
O maluco de internet é um idealista: ao fuçar em seus álbuns
do Orkut e do Facebook, não se conforma em vê-lo trabalhando, estudando,
construindo... Quer atraí-lo para sua causa: um mundo perfeito onde todos
joguem a “Colheita Feliz” e tenham avatares no “Second Life”. Você pode
odiá-lo, pode até temê-lo, mas o maluco de internet só quer o seu bem... Sua grande
ambição é resgatá-lo da medonha realidade. Mesmo que você não queira ser
resgatado!
* * *
Quem não teve alguma experiência desagradável com malucos de
internet que dispare o primeiro span.
Eu tive. E me arrependo de não ter escutado a vozinha interior
que sempre me previne sobre buracos na Marginal do Tietê ou mudanças climáticas
bruscas quando abri o portão e deixei um doido entrar no meu quintal. Lembro-me
do meu indicador sobre o botão do mouse, minha momentânea indecisão diante do
"me add aí!" (a consciência me lembrando que é dever do cidadão
socializar, dividir experiências; meu “eu” interior, prático e realista,
dizendo: “manda esse cara pastar!”). Se fosse possível voltar no tempo, teria
clicado no salvador “não desejo adicionar”, ao invés de no catastrófico “desejo
adicionar”.
Mas aí já era tarde...
* * *
Teve um maluco de internet (ele se apresentou como cinéfilo
e colega de profissão, ganhando o meu respeito – tolo, tolo, tolo!) que
encasquetou que eu era a cara do Homem-Aranha (?). Transformou isto em um
debate no Orkut e, decidido a provar que eu era o Peter Parker emo do filme
(afinal, tenho cabelo caído na testa desde os três anos de idade; se isto não
me faz um precursor da banda Fresno, nada mais o fará!), postou, no fórum em questão,
um link para o meu álbum de fotos (antes que o Orkut criasse as ferramentas de
privacidade que, hoje, isolam as pessoas normais dos malucos de internet). E aí
o inferno ficou solto.
Outros malucos de internet, farejando sangue, começaram a me
atacar (assim como às pessoas listadas em meu profile) com ofensas desconexas,
que não tinham qualquer relação com a “profunda” discussão inicial (se eu era
ou não o Homem-Aranha – dãããã!). Minha página de recados ficou cheia de
mensagens postadas por gente que eu nunca vira na vida, achincalhando o lugar
onde passo férias em janeiro (São José dos Pinhais), a configuração dos móveis
da minha sala de estar, meus familiares e até o meu cachorro. Quando a coisa
começou a descambar para o linchamento virtual, contatei diretamente o
responsável pela lambança, através de depoimento, e solicitei que o link para o
meu álbum de fotos fosse apagado – do contrário, apelaria à Lei para garantir
minha privacidade.
* * *
E foi só isso. Não recorri sequer ao clássico: “você
receberá uma ligação do meu advogado!”, que sempre funciona nos filmes. O post
foi prontamente apagado – mas, por precaução, bloqueei o bobalhão na minha
página do Orkut. Nunca mais ouvi falar dele – até outro dia, quando o flagrei
em uma lista de discussão na internet, lamentando-se com aquela autocomiseração
típica de sua espécie (o maluco de internet sempre se vê como a vítima, nunca
como o vilão; em seu entendimento, ele é "o coitadinho que a mamãe não
amou"): “O Torelli quase me processou uma vez... mas é um ótimo
jornalista.”
Bem, grato pela preferência. E desculpe se agi como um
babaca na ocasião, mas estava sob o efeito de pesados antidepressivos. Curei-me
do mal parando de assistir a filmes de super-heróis (eles são contra-indicados
a maiores de 12 anos) e me comprometendo a tomar ao menos dois banhos de sol
por dia, ao invés de mofar na frente do computador brigando, amando e
desperdiçando minha vida na Internet.
E desculpe ser eu a lhe dizer isso, porque não gosto de
destruir as esperanças das pessoas, mas... Bem, o Homem-Aranha não existe.
Relaxe, você vai superar.
* * *
A lição que este episódio ensina é que o Orkut e o Facebook
são apenas “cartões de visitas” cheios de fotos, gifts animados e musiquinhas.
O fato de frequentar meu profile não o torna meu amigo íntimo – e
consequentemente, não lhe dá o direito de peidar na minha sala, mijar no meu
quintal ou comer a minha irmã. Até que se prove o contrário, somos apenas
fotinhos 3X4 nos murais virtuais de terceiros. E isto, convenhamos, não é muita
coisa...
O lado positivo do maluco de internet é que podemos nos
livrar dele com um simples toque – para isso inventaram a tecla “delete” do
computador. Se um deles invadir seu quintal e começar a revirar o seu lixo,
basta “deletá-lo”. E se tudo falhar, basta “deletar” a si mesmo do Orkut,
Facebook ou qualquer rede social que venha a ser inventada.
O maluco de internet não acreditaria nisso, mas há provas
documentadas de pessoas que, no passado, conseguiram sobreviver sem nunca se
logar em um site ou conversar por MSN. Aristóteles foi um deles. E Mussum
também.
Duvida?
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