quarta-feira, 24 de abril de 2013

Crônica - Festas



LUZES DE NATAL



É um pássaro? É um avião? Não, é a Ponte Estaiada prestes a entrar em órbita



Na semana passada, o assunto aqui na redação eram as luzes de Natal da Avenida Paulista. Este ano, por obra do acaso, eu as vi brilhar – é que fui jantar com uns amigos em uma pizzaria próxima à Consolação e dei de cara com as fachadas resplandecentes do Conjunto Nacional e do Shopping Center 3.

Depois disso, passei a reparar melhor nas avenidas e pontos turísticos da metrópole, devidamente customizadas para as Festas. E percebi, atônito, que há muito tempo não fazia isso. Em termos de design, não andei perdendo nada: a versão “natalina” da Ponte Estaiada é um constrangimento – sem falsa modéstia, acho que eu faria melhor se me dessem uns dez quilômetros de fios e luzinhas e infraestrutura para pendurá-las naqueles cabos de aço.

Em compensação, o “branco” que é a minha lembrança das caras da cidade nos últimos 25 ou 30 natais mostra o quanto me distanciei do lado lúdico das Festas. Foi-se embora a poesia, a inocência, assim como a minha capacidade de me encantar com essa época, que, em outros tempos, costumava ser “a época”.

* * *

Sim. Porque mesmo depois da infância (quando o Natal representava a expectativa de ganhar um boneco “Falcon”, um “Piloto Campeão” ou um robô “Arthur” – comprovadamente o último brinquedo que me deram, em 1982), as Festas foram, por um tempo, um momento divino (com o perdão do trocadilho ordinário) dividido com a família e os amigos. Não vou dizer que pensava no menino Jesus quando atacava uma perna de Peru ou um Chester. Mas o fato de estar alegre e cercado por gente que eu amava tornava-me, por osmose, uma pessoa mais alegre e amável.

O Natal e o Ano Novo eram um tipo de “Copa do Mundo” no que se refere aos eventos familiares – ingressos esgotados, gente sentada no chão. Vinham parentes do interior para cá, só para passar a meia-noite dos dias 24 ou 31 conosco; as distâncias eram menores ou a disposição das pessoas era maior. E também surgiam os amigos, já na alta madrugada, em um tipo de “peregrinação” que tinha muito dos hábitos do interior. Portas sempre abertas, festas regada a comida e bebida, muita música – e lugar para quem chegasse, quando e como chegasse.

Também jogávamos até o dia clarear – velhos, adolescentes e crianças; “Perfil”, “Imagem & Ação”, “Mímica” – independentemente da atração a censura era livre e o quorum, máximo. As pessoas queriam estar perto umas das outras – perto de quem importava; não banalizavam a ocasião brindando com ilustres desconhecidos em um restaurante ou casa noturna. Ria-se, bebia-se, bagunçava-se. E também confraternizava-se.

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Além disso, todos eles estavam ali: meus tios e tias-avós, meu pai, meus amigos de infância. O redemoinho ainda não passara com força, levando alguns para longe e outros para sempre. O que ficou? Nenhum daqueles brinquedos eu tenho mais – minto, o “Arthur” eu ainda tenho. E a alegria, a música e os risos silenciaram. O Natal não é propriamente triste, mas todo aquele contingente desertou e sobraram apenas algumas pessoas; eu as conto nos dedos de uma mão e isso não é uma figura de linguagem. Pessoas que contam, sim – as pessoas que mais contam. Mas é inegável que, em termos de “produção”, o Natal se tornou um filme de baixo orçamento.

Tristeza? Melancolia? Nem pensar: o cinismo é meu companheiro e a ideia que prevalece é a de que, após o dia 25, estarei de férias. Estarei viajando e curtindo, pois a alegria não é um bem sazonal, como querem nos fazer crer as propagandas (e em certa medida, também as luzes de Natal). Rirei por último e rirei melhor.

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Mas talvez – só talvez – eu possa encontrar um lugarzinho na agenda para, nos próximos anos, ir espiar as luzes de Natal na Avenida Paulista, no Jardim São Paulo ou no centro da cidade. Ok, não passam de símbolos, artifícios luminotécnicos para impulsionar o consumo. Mas também são uma tradição cativante que ainda estará de pé muito tempo depois de eu ter partido. Que já estava de pé, é preciso admitir, muito antes de eu chegar aqui.

Não mata ninguém, nem tira pedaço. E de quebra, me faz lembrar de pessoas especiais, momentos que não se repetirão e emoções enferrujadas, que andavam esquecidas no fundo de uma garagem junto com meu velho robô “Arthur”.

Olha só: Papai Noel já tinha me dado um presentão este ano. E eu quase não percebi...

P.S.: O mantenedor deste blog fecha a “lojinha” neste fim de ano, mas retoma a insalubre (mesmo que divertida) tarefa de atualizar (mal e porcamente) o Baú do Edu em 2011. A todos os brothers e sisters que passam por aqui regularmente, um hiperbólico Natal e um épico Ano Novo.