segunda-feira, 22 de abril de 2013

Cinema - "Avatar"



"KLAATU BARADA NIKTO!"



O mantenedor deste blog demorou até embarcar na onda do filme Avatar, mas se rendeu à maioria. Não é lindo o modo como os gringos nos veem?



Ô, rapaz! Que saudade do Sting!

Embora o roqueiro tenha “inflado os nossos bagos” nos anos 1980, convenhamos: Sting era um guardião da Natureza mais simpático que James Cameron, o novo “Embaixador da Clorofila” no Brasil. Além do mais, Sting tinha a seu favor composições sensacionais, como “Message in a Bottle” e “Roxanne”, e foi líder do “The Police”.

Já James Cameron é o cara que fez Avatar...

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Não se sabe como, quando e por que James Cameron decidiu salvar o mundo. Mas suspeita-se que a ideia tenha lhe ocorrido durante as filmagens de Avatar, especialmente, quando as maciças campanhas de marketing da Fox começaram a prenunciar que o filme seria um recordista de bilheteria.

Com sua visão arguta da ligação entre o homem e o ecossistema – no filme Avatar, os alienígenas bonzinhos se conectam à floresta plugando as pontas de seus rabos em animais, pedras e troncos de árvore, como se fossem descarregar fotos digitais em um computador ou baixar músicas de um iPod (Chico Mendes deve estar se virando no túmulo!) –, James Cameron (cada vez mais parecido com a Dona Benta!) deve ter tido um insight que sua cruzada em prol do verde deveria levá-lo primeiro ao Brasil e à Amazônia, a pátria de Monteiro Lobato, do Saci e do Curupira, o grande defensor das matas.

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Do alto de sua experiência como diretor de filmes de ação, porém, Cameron não veio sozinho. Fez-se acompanhar de ninguém menos que a Tenente Ripley (a atriz Sigourney Weaver, estrela dos filmes da série Alien), já que não se pode marcar bobeira nesses encontros com espécies menos evoluídas...

Empunhando sua pulse gun, Ripley se juntou ao intrépido cineasta nesta perigosa jornada ao Terceiro Mundo. Se a viagem se estendesse às periferias de São Paulo e do Rio de Janeiro, Cameron teria convocado também o “Exterminador do Futuro”, Arnold Schwarzenegger, personagem de seu filme de 1985. Mas, como a agenda em terras tupiniquins não oferecia riscos, só veio a Ripley, mesmo...

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Se bem que a pobre da Ripley amargou maus momentos nesta aventura. Talvez tenha sentido saudade da Rainha-Mãe dos Aliens (“Biiitch!”) ao ser notificada que o “Tour de Force” de sua passagem por São Paulo seria juntar-se a James Cameron em um mico de proporções galácticas: plantar uma muda de árvore no Parque do Ibirapuera. Nunca na história deste país se viu estratégia mais original para protestar contra os maus tratos do homem e do progresso contra a natureza.

Felizmente, o “programa de índio” (com o perdão do trocadilho politicamente incorreto) durou pouco: logo, todos se refugiaram nas entranhas perfumadas de um luxuoso hotel de São Paulo, onde a cruzada de Dona Benta e da Tenente Ripley era outra: assegurar que o filme Avatar (lançado em DVD e Blu-ray esta semana, em milhões de embalagens plásticas não-retornáveis a seus elementos e que causarão sérios danos ao meio-ambiente) seja um sucesso também nas videolocadoras.

Aos jornalistas presentes no evento, Cameron disseminou Sua divina palavra: “Vemos que o seu país pode liderar o caminho de uma nova era.” Também mandou um recado importante ao líder da nação, Lula-Molusco, no sentido de que ele deve se mobilizar para que empreiteiras e grandes corporações não se intrometam em questões que são vitais para o meio-ambiente: “Eu o desafio a ser um líder, Lula! O líder do século 21!”

Nós também, James! Nós também!

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O clímax deste filme non-sense foi o discurso inflamado de Cameron contra a construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu. A mise-en-scène teve direito a tudo, até a índios caracterizados aplicando pinturas de guerra na cara da Dona Benta.

Talvez delirando com o calor tropical, Cameron esqueceu a mensagem “anti-intervencionista” de Avatar e mandou um autoritário: “Washington deve ter interesse em evitar a usina. É um problema internacional. O reservatório vai provocar o impacto do metano, que é 20 vezes mais danoso do que o gás carbônico!”

Bom... Ao menos agora temos certeza de que, se a coisa feder de vez por aqui, os norte-americanos mandarão ao Brasil suas equipes anti-contaminação e alguns marines pra botar ordem na casa e fechar essa porra aqui pra balanço!

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Antes de partir, Cameron e a Tenente Ripley ainda encontraram tempo para um jantarzinho simples na casa do publicitário e empresário Nizan Guanaes. Coisa bucólica, típica de gente natureba e despojada: o regabofe aconteceu na mansão de Guanaes, em São Paulo (SP), e foi extensivamente noticiado pela revista “Caras”.

Também estavam lá João Doria Jr., o ator Victor Fasano e o executivo Johnny Saad – que, certamente, serão valiosas fontes de inspiração para a criação dos alienígenas que veremos nos próximos filmes de ficção científica de James Cameron.

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É claro que se paga um preço quando se defende a Natureza com tamanha veemência: talvez Cameron e a Tenente Ripley sonhassem com um cardápio tipicamente brasileiro – Vatapá, feijão preto, arroz de carreteiro e outras delícias “gastronomicamente incorretas”, que agradam tanto aos gringos que visitam o país.

Infelizmente, precisaram se contentar com uma mesa coalhada de rolinhos de tapioca, farofa de banana da terra e outras iguarias que nenhum brasileiro em sã consciência tem coragem de provar. Até porque são “comida de índio”.

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Ao fim da festa, os convidados receberam um “mimo” da joalheira Bibiana Paranhos: uma peça de quartzo que representava a força da natureza (sic).

Vendo tudo de um cantinho, meditativo, um velho serviçal da Mansão Guanaes ria e filosofava: “uma porção de bom-senso, gente. Please!”