segunda-feira, 22 de abril de 2013

TV - Copa do Mundo 2010



"BEM, INIMIGOS DA GLOBO..."




Para um brasileiro não-fanático por futebol, a Copa do Mundo é assim: em princípio, um saco; mas, com o tempo, a insistência dos noticiários e o som dos cornetões (desculpe, das “vuvuzelas”), a gente se acostuma e acaba até interessado no Mundial.


Foi assim na fatídica Copa “noturna” do Japão: do total desprezo nos primeiros jogos, me vi acertando o despertador para as 04h00 da matina já nas oitavas de final. No Brasil, futebol é como vírus em filme de zumbi: o mocinho resiste enquanto dá, mas, eventualmente, também se torna um morto-vivo comedor de cérebros...

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Este interesse se intensifica quando surge um “barraco” quente na mídia.

E nas últimas Copas, ninguém protagonizou melhores “barracos” do que a Rede Globo de Televisão.

A emissora se assemelha cada vez mais à atriz Susana Vieira (foto), que se autoproclamou a “porta-voz” informal da casa; como Susana, a Globo insiste em ser o centro das atenções, mesmo quando se aventura em searas com as quais tem pouca ou nenhuma intimidade.

Jornalismo, por exemplo.

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A mais recente “videocassetada” global foi a peleja entre sua reportagem e o técnico da Seleção, Dunga. Como se sabe, Dunga “peitou” um repórter da emissora, Alex Escobar, em meio a uma coletiva de imprensa realizada após o jogo “Brasil X Costa do Marfim”.

Dunga – que de “anão” só tem o apelido – virou um gigante: pôs o emissário da Globo em seu lugar com uma frase lapidar, excluída dos livros de etiqueta da Danuza Leão, mas sempre funcional em “tretas” de boteco ou de trânsito. A clássica: “Que foi? Algum problema?”

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Isto foi o que todo mundo viu.

Mas as razões do quiproquó só vieram à tona dias depois. Como noticiou o UOL Esporte, em 22/06/2010, a bronca de Dunga com a Globo não era totalmente infundada.

Na hora da coletiva, enquanto Dunga expressava seu parecer sobre o jogo, Alex Escobar conversava com Tadeu Schmidt (apresentador da Globo) por telefone. O assunto era polêmico: a emissora havia passado por cima do técnico e fora negociar diretamente com Ricardo Teixeira, presidente da CBF, entrevistas exclusivas com jogadores da Seleção. Estas seriam exibidas no programa mais “pensante” da TV, o Fantástico, apresentado pela dupla de prêmios Nobel, Patrícia Poeta e Zeca Camargo.

Mas Dunga, nem aí para os interesses da Globo, vetou as entrevistas e “melou” todo o esquema.


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A emissora revidou prontamente, mas a emenda saiu pior do que o soneto.

Ao se colocar como “vítima” em um constrangedor depoimento/editorial/sei-lá-o-quê veiculado no Fantástico (a alegação: Dunga, um sujeito grosso e mal-humorado, estaria dificultando o trabalho da imprensa), a reportagem da Vênus Platinada atraiu a urucubaca para o seu próprio terreiro. Como informou Ricardo Feltrin na coluna “OOOPS”, do UOL:

“Nas últimas 48 horas a Globo tem sentido na pele de que lado está o torcedor. A emissora está recebendo milhares de e-mails e sendo achincalhada em redes sociais por conta da briga que iniciou com o técnico (...) Até dirigentes da emissora estariam divididos sobre o caso. Para alguns diretores, há o risco de, em uma eventual derrota do time brasileiro, a emissora ser responsabilizada pelo telespectador, angariando antipatia.”

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Será que uma estranha conjunção astral ameaça mudar para sempre o curso imutável das coisas?

Como assim: alguém disse “não” à Rede Globo?

Desse jeito, logo macacos estarão voando. E Luciana Gimenez lançará uma autobiografia intitulada “Por que Einstein Estava Errado”.

A emissora carioca começa a sentir os efeitos de um fenômeno que, até então, não parecia ameaçá-la diretamente: a democratização da informação.

A Internet reduziu a pó de traque sua invencibilidade. Tornou impossível a disseminação de “mitos” como o que escutávamos nos anos 1980 – “A Rede Globo é a terceira melhor emissora do mundo” (então, tá...). E até transformou o maior “mala” de seu casting de subcelebridades, Galvão Bueno, em um pateta planetário – o apresentador foi ridicularizado na hilariante campanha “Cala a Boca, Galvão!”, que repercutiu adoidado no Twitter.


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Não é à toa que a máxima “Fora, Rede Globo! O povo não é bobo!” se inseriu de forma indelével em nossa cultura.

Não se discute que a Globo é uma “gigante” do ramo de entretenimento. Tirando Manoel Carlos e Gloria Perez, a casa tem o melhor time de “noveleiros” do planeta. Também criou programas bem legais (A Grande Família, Sai de Baixo, Anos Rebeldes – a lista é imensa) e lidera nossa evolução tecnológica no setor, investindo audaciosamente em novos equipamentos, linguagens e formatos.

A Globo merece, portanto, os louros da vitória por ter transformado positivamente nossa realidade audiovisual – e só um boçal de marca maior a condenaria por proporcionar diversão de qualidade ao grande público.

O “Fora, Rede Globo!”, portanto, não é para o Luciano Huck; para o Faustão; ou para o Tony Ramos. Não é sequer para a Ana Maria Braga, apesar de a loura azedar o café da manhã de muita gente com sua antipatia contagiante.

O “Fora, Rede Globo” é para o jornalismo da emissora, que tem mesmo o péssimo hábito de se meter aonde não é chamado, transformando tudo (do boto cor-de-rosa à fome no Terceiro Mundo) em uma novela ruim das 19h00. Nos últimos anos, a Globo conseguiu “zicar” eleições, eventos esportivos, plebiscitos e até o Carnaval. Sempre colocando os próprios interesses comerciais acima da informação e, sim – algumas vezes –, da Democracia.

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Ao menos há um lado positivo nesta tragédia.

A “batida de frente” com Dunga terá um efeito benéfico nas “reportagens” da Vênus Platinada: doravante, a comissão de 500 “globais” escalados para cobrir a Copa do Mundo 2010 (incluindo Fátima Bernardes e, claro, Susana Vieira) precisará se virar para obter pautas interessantes e, consequentemente, ter um bom lucro com inserções publicitárias.

A criatividade e o “faro jornalístico” terão que dar as caras outra vez na tela da Globo, já que entrevistas “exclusivas” com grandes astros do esporte (ou “furos” de reportagem mirabolantes) não estão mais à venda. Ou deixaram de ser “negociáveis”.

Evoluir é Fantástico!